O fantasma da coligação de esquerda à solta na campanha da PaF

Coligação PSD/CDS não admite derrota, mas anda às voltas com os cenários pós-eleitorais.

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Miguel Manso

Na campanha da coligação PSD/CDS, os últimos dias têm sido marcados pelos avisos contra um possível bloqueio de António Costa a uma eventual maioria à direita. É que nos próximos tempos não é possível convocar novas eleições legislativas, o que obriga a encontrar uma solução de Governo no quadro parlamentar eleito a 4 de Outubro. Há quem admita que o líder do PS se prepara para oferecer uma solução de governabilidade com o PCP e assim poder ultrapassar a coligação em número de mandatos de deputados.

Na aliança PSD/CDS, a linha oficial é a de não fazer cenários de derrota. Mas o day after preocupa muita gente. Passos Coelho já admitiu que o Presidente da República deve chamar a formar governo a força que tiver mais deputados eleitos. Mas sem a maioria absoluta, António Costa já anunciou o voto contra o Orçamento e que votará (segundo foi noticiado e não desmentido) uma moção de rejeição ao programa de Governo.

A aprovação dessa moção exige uma maioria absoluta de deputados, o que obrigaria a juntar toda a esquerda. Mas isso nem sempre isso é possível, como foi o caso do primeiro governo minoritário de António Guterres, que tinha o apoio de 115 deputados contra 115 parlamentares de toda a oposição. <_u13a_p>

Caso o programa de Governo seja rejeitado, o Executivo cai, mas não há novas eleições porque se está a menos de seis meses das Presidenciais (Janeiro de 2016). Depois há mais seis meses do início da legislatura em que o Parlamento não pode ser dissolvido. Nestas situações, o Presidente tem sempre de encontrar uma solução no quadro parlamentar.

Na coligação, há quem admita que, se a maioria absoluta não for conseguida já no próximo domingo, António Costa pode propor a Cavaco Silva uma solução de governabilidade com os comunistas. Esse cenário – assim como o de um entendimento com o Bloco – tem sido colocado abertamente por dirigentes da coligação.

Num jantar-comício em Guimarães, neste domingo, Jorge Moreira da Silva, vice-presidente do PSD, atirou a pergunta: “Estão a ver o vice primeiro-ministro Jerónimo de Sousa meter-se num avião e reunir-se com o vice-presidente Joe Biden a pedir investimento para Portugal?”. Pergunta idêntica foi lançada sobre Catarina Martins, dirigente do Bloco, mas na coligação acredita-se que esta hipótese é menos provável.

Apesar de o cenário de aliança com o PCP ser admitido, há quem chame a atenção para a falta de legitimidade de António Costa nessa “insólita” circunstância. “Pode ter a legalidade, mas não a legitimidade política”, afirmou ao PÚBLICO uma fonte da maioria. No pós-legislativas coloca-se ainda outra questão: a das eleições presidenciais. E aí, lembra a mesma fonte, o líder do PS terá de gerir Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém. <_u13a_p>

No cenário de derrota da coligação, a aliança eleitoral que foi firmada entre Paulo Portas e Passos Coelho para apoiar um Governo PSD/CDS deixa de fazer sentido. Os partidos voltam a ter duas bancadas parlamentares completamente autónomas e sem qualquer compromisso entre elas. Mas têm uma diferença. É que os deputados do PSD comprometeram-se por escrito a renunciar ao mandato no caso de “existir uma persistente divergência entre as orientações gerais do grupo parlamentar e a sua posição individual”. Só têm liberdade de voto em questões de consciência. Já os candidatos do CDS não assinaram nenhum compromisso. <_u13a_p>

A menos de uma semana das eleições, Passos Coelho e Paulo Portas deram tréguas nos ataques ao PS. Na coligação acredita-se que é a moderação no discurso que pode seduzir muitos indecisos nesta recta final. Esse foi o tom das intervenções desta segunda-feira, mesmo a de Paulo Portas que era o franco-atirador de Costa. Agora só pedem estabilidade para governar. 

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