Porto Digital vai herdar infra-estrutura do Future Cities

Associação vai passar a ser um operador de cidade e gerir a rede de transmissão de dados instalada pelo projecto europeu.

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João Barros coordenou o projecto Future Cities a partir da Faculdade de Engenharia da UP Paulo Pimenta

O projecto future Cities terminou. Três anos e 2,3 milhões de fundos europeus depois, na cidade do Porto fervilham ainda projectos, e algumas novas empresas, que apontam para um futuro em que cada cidadão é, ele próprio, um sensor que recolhe dados sobre si, e sobre o ambiente urbano, onde circulam veículos que transmitem esses dados. Essa rede veicular deverá passar a ser gerida pela Associação Porto Digital, e colocada ao serviço de entidades públicas e privadas, que queiram desenvolver aplicações a partir da informação partilhada.

Autocarros da STCP, frota do município e alguns táxis foram transformados, com o Future Cities, em pontos móveis de uma rede de recepção e transmissão de dados veicular, que cobre praticamente toda a cidade. E são, muitos deles, sensores que recolhem dados ambientais, em conjugação com instrumentos de medição fixos, instalados em várias ruas. Mas terminado o projecto financiado pelo Sétimo Programa Quadro de Ciência e pelo QREN, e coordenado pelo investigador João Barros, da Faculdade de Engenharia da UP, o que fazer a esta infra-estrutura?

A Câmara do Porto quer fazer da Associação Porto Digital, organismo detentor de uma rede de fibra óptica própria, um operador de cidade. Na prática, a APD, que deve sair brevemente de uma situação económica complicada, mal o Tribunal de Contas aprove uma injecção de capital do município, vai passar a gerir esta outra rede e os dados que a cruzam. Muitos deles serão fornecidos, como open data, para empresas e instuições que os queiram usar para aplicações com utilidades várias mas, noutros casos, admite o Vereador da Inovação, os dados gerados serão vendidos.

Um dos exemplos de dados que a indústria de software mais procura são os de velocidade de circulação nas estradas, complementos essenciais para serviços premium de apps de navegação em telemóveis, por exemplo. E o Porto, neste caso, tem mais de 600 veículos em circulação constante a transmitir, para uma rede sem fios, e a baixo custo, essa “informação” em tempo real e com uma abrangência rara, em projectos deste tipo. Enquanto outras cidades exploram as virtualidades deste sistema num quarteirão, aqui a rede veicular, que deu origem a uma nova empresa, a Veniam, chega a todo o lado.

A possibilidade de transmissão de dados através desta rede está a alimentar um conjunto de projectos, apresentados esta sexta-feira, numa sessão de encerramento do Future Cities, e nem todos se centram no ambiente urbano. Há aplicações direccionadas para a área da saúde, para a monitorização de comportamentos individuais e de massas e até para a aferição do estado de espírito dos cidadãos, em determinadas situações.

Esta foi uma das novidades apresentadas, que recorre a uma ferramenta de medição de múltiplos parâmetros dos próprios utilizadores, a SenseMycity. Apoiada nas emoções primárias identificadas pelo teórico Paul Ekman – consultor da série televisa Lie to Me – Cristina Queirós, da faculdade de Psicologia, está a pôr voluntários a indicar, através de um interface simples, o seu estado de Espírito em determinados lugares. E o mapa com uma amostra, ainda que pequena, mostra o efeito negativo, no humor, de um espaço como a VCI.  

E este é apenas um exemplo, ainda incipiente, do que se pode fazer, a partir de um projecto que, garante o seu coordenador, João Barros, conseguiu esse objectivo de transformar o Porto num laboratório vivo. A infra-estrutura criada vai permitir que as empresas instaladas continuem a apurar as suas soluções, e que as start ups possam testar novas aplicações, numa escala urbana que poucas cidades conseguem, neste momento oferecer.  

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