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Os verdadeiros piratas usam fato e gravata

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A série "Treasure Island" do uruguaio Federico Estol tem como objectivo "ir directo ao coração das enormes injustiças sociais que ocorrem no mundo" e foca-se na raíz do problema, disse ao P3 em entrevista via email. "Vemos diariamente imagens que descrevem o terrível estado em que está mundo, mas elas não revelam as verdadeiras causas, que são os paraísos fiscais, os verdadeiros buracos negros da prosperidade global." As ilhas Caimãs, nas Caraíbas, sempre foram o santuário da pirataria e, segundo Estol, "a identidade das ilhas não mudou muito". "Os piratas invadiram as Caimãs e foram-se transformando gradualmente em executivos." Uma vez por ano decorre um festival tradicional a que chamam "Pirate's Week Festival". Durante esse período, Estol teve a oportunidade de criar uma narrativa ficcional baseando-se unicamente na realidade que estava perante si. "Os piratas roubavam o dinheiro dos outros e usavam as ilhas para esconder os seus tesouros. Nos dias que correm, o paralelo é o mesmo: contabilistas e banqueiros de diferentes potências mundiais usam as ilhas para esconder os tesouros dos bilionários e das grandes multinacionais de forma a evitar o pagamento de impostos - desviando assim dinheiro que deveria pertencer à classe média de todo o mundo." O fotógrafo considera os paraísos fiscais "locais estranhos, já que neles há muito pouco à vista que denuncie o impacto que têm". As Caimãs são o quinto maior centro económico do mundo, a seguir a Londres, Nova Iorque, Tóquio e Hong Kong. Os 500 bancos que operam no território detêm cerca de 2.1 triliões de dólares - "o suficiente para providenciar alimentação e cuidados de saúde do mundo inteiro", salienta Estol. "Enquanto os governos do mundo lutam por conseguir garantir serviços essenciais e protecção social aos cidadãos, corporações multinacionais e multimilionários não só enriquecem como não contribuem com um só cêntimo. Os serviços de saúde e educação acabam por ser pagos pelas classes baixa e média, o que resulta em bancarrota dos estados que deixam de poder garantir o bem-estar à população." As ilhas Cayman, segundo o fotógrafo, são altamente controladas, no que toca à presença dos 'media'. "Tive de usar diferentes camuflagens para poder trabalhar livremente. Durante o dia vestia-me como um turista de cruzeiro e de noite um fato impecável que me garantia entrada em todos os eventos e passar despercebido. Esta estratégia foi muito útil na realização destas imagens." Ana Maia