Teerão abre portas a base militar polémica e caminha para o fim das sanções

Há dez anos que inspectores estrangeiros não entravam em Parchin, onde se suspeita que Teerão possa ter feito testes a explosivos nucleares.

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Hassan Rouhani e Yukiya Amano em Teerão, no domingo Presidência do Irão

A Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) recebeu no domingo as primeiras amostras ambientais recolhidas no polémico complexo militar Parchin, há vários anos vedado a inspectores estrangeiros e local onde se suspeita que o Governo iraniano possa ter realizado testes a explosivos nucleares. A agência tentará perceber através destas amostras se há provas de que Teerão tenha tentado desenvolver uma bomba em Parchin.

Os indícios ambientais foram recolhidos por especialistas iranianos e entregues ao director-geral da AIEA, Yukiya Amano, que esteve no domingo em Teerão no vasto complexo militar, a 30 quilómetros da cidade. Amano e uma equipa de especialistas da agência internacional visitaram pela primeira vez alguns edifícios da base que até agora tinham sido apenas observados através de imagens de satélite. A visita a Parchin foi apenas simbólica e não uma inspecção oficial da AIEA.

O acordo sobre o nuclear no Irão exige que a AIEA esclareça as “ambiguidades” do programa iraniano – palavras da própria agência – e garanta que o programa cumpre as exigências do acordo de Julho. Se não houver provas de que o Irão tentou no passado construir armas nucleares, algo que há muito refuta, as sanções ao país podem começar a ser anuladas. As grandes suspeitas recaem sobre os primeiros anos da década de 2000, período em que se julga que Parchin foi utilizado como laboratório para explosivos atómicos.  

Mas essa avaliação pode já ser impossível. A agência internacional afirmou em Abril deste ano que as várias obras de remodelação operadas na base desde 2012 “provavelmente comprometeram a capacidade da agência em conduzir verificações eficazes”. O Governo iraniano fez novas obras poucos dias depois de ter sido assinado o acordo em Viena.

Teerão diz que as construções mais recentes são apenas reparações a uma estrada que sofreu uma inundação. Mas, no Ocidente, as imagens de veículos pesados em Parchin são encaradas como mais uma tentativa de “sanitização” de actividades nucleares do passado – o chefe da AIEA visitou o local, segundo o porta-voz da agência nuclear iraniana. 

O protocolo de recolha de amostras em Parchin e em outras centrais no Irão para análise da AIEA é confidencial e alvo de suspeitas no Ocidente. Os críticos ao acordo nuclear dizem que não podem avaliar o grau de transparência de Teerão se não conhecerem o processo de troca de provas. Em comunicado, Amano afirmou que a agência garantia “a integridade do processo de recolha e a autenticidade das amostras”. Foi um "progresso significativo", disse o responsável. 

Há dez anos que o Irão não permite que inspectores internacionais entrem em Parchin. A agência internacional disse em 2006 que a sua última vistoria não encontrara provas de “actividades irregulares”, embora já circulassem rumores de que o país estaria a preparar a construção de armas nucleares. O crescente secretismo do Governo iraniano e, anos mais tarde, as imagens de grandes remodelações no complexo reforçaram as suspeitas no Ocidente.

Yukiya Amano fez no domingo as rondas diplomáticas em Teerão. Para além de se encontrar com responsáveis pelo nuclear iraniano, o director-geral da AIEA esteve com o Presidente Hassan Rouhani e o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Javad Zarif. 

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