Liberdade

Sou pela liberdade. Uma frase simples que não suporta adversativas. Quando aliadas a esta afirmação, as conjunções “mas”, “no entanto”, “contudo”, “todavia” ou “porém” são apenas máscaras cobardes que falham no exercício de tentar escamotear o egoísmo ou o medo que esvaziam as nossas convicções.

Sou pela liberdade. Ponto. É um valor absoluto. Não existem circunstâncias ou valores que derrubem esta crença e quando hasteio esta bandeira tenho a noção da responsabilidade que esta condição acarreta.

Sou pela liberdade na primeira, na segunda, na terceira pessoa.

A liberdade de expressão, de acesso e de circulação.

O Ano Europeu para o Desenvolvimento foi dividido em doze temas. Em Setembro falamos de Migrações e Demografia. Há muito decidido, chega brutalmente contextualizado.

Em todas as ruas se discute o destino dos refugiados.

A 14 de Setembro de 1961, entra em vigor na ordem jurídica portuguesa a IV Convenção de Genebra na qual se define o termo “refugiado” e onde, entre outros artigos, Portugal assume que “as pessoas que não tomem parte directamente nas hostilidades, incluindo os membros das forças armadas que tenham deposto as armas e as pessoas que tenham sido postas fora de combate por doença, ferimentos, detenção, ou por qualquer outra causa, serão, em todas as circunstâncias, tratadas com humanidade, sem nenhuma distinção de carácter desfavorável baseada na raça, cor, religião ou crença, sexo, nascimento ou fortuna, ou qualquer outro critério análogo”.

Está na lei mas, ainda que não estivesse, este deveria ser o nosso comportamento natural. A lei de todos os homens e mulheres que se dizem humanos. Receber e cuidar dos que necessitam de auxílio. Somos tão rápidos a afirmar que somos um povo que sabe e gosta de receber como a dizer que não podemos fazer nada porque a nossa situação não está fácil. E, entre a dor de assistirmos à morte na primeira plateia e o medo de perdermos no dar, demoramos a agir.

1 em cada 7 pessoas são migrantes. Mil milhões de pessoas deslocam-se por variadíssimas razões e deveriam poder fazê-lo livremente.

Um peixe ou um pássaro tem essa possibilidade. Nós, seres racionais, que lutamos pela liberdade e a reconhecemos como condição essencial para o nosso bem estar, aceitamos pacificamente que um passaporte nos prenda a um pedaço de terra. Sujeitamo-nos a condições indignas e a vidas clandestinas quando tentamos a nossa sorte noutros países e convivemos serenamente, uns mais outros menos, com a agonia dos que se encontram em situações miseráveis porque não estão dentro das nossas fronteiras, não partilhamos a nacionalidade nem temos os mesmos costumes.

Somos incoerentes na forma como lidamos com as migrações. Temos uma visão unilateral. Queremos que os nossos familiares e amigos encontrem melhores condições nos países para onde partiram, aplaudimos o sucesso dos nossos artistas que se internacionalizaram mas, como estamos a sofrer os austeros efeitos de uma crise económica mundial, assim nos desculpamos, não queremos ser um país de destino.

Não podemos ser pequenos quando analisamos o mundo. Se queremos a globalização, ela só se dá na partilha, na mistura. Se o que realmente queremos é ser felizes, esse é um caminho que não se faz à custa do sofrimento do outro ou ignorando a sua existência.

Encontro tanta riqueza e crescimento no encontro de culturas, no abraçar o desconhecido, no permitirmo-nos alargar horizontes. É a diferença que promove o debate, fortalece as ideias, desperta a criatividade, faz avançar o pensamento e promove a mudança, a evolução.

No caso específico de Portugal, encontra-se no distrito de Castelo Branco a região mais envelhecida da europa. O contributo das migrações para o aumento das taxas de fecundidade e natalidade é estimável e precioso. A soma e a partilha do que se tem, acrescenta. A velha máxima “A união faz a força” ilustra-o na perfeição.

Dizem-me muitas vezes, em tom de crítica, que sou optimista e que tenho uma visão utópica do mundo e das pessoas. Já dizia Oscar Wilde, “o progresso é a realização de utopias.”

Embaixadora do Ano Europeu para o Desenvolvimento em Portugal

Sugerir correcção
Comentar