Até quando vamos tolerar isto?

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Há semanas seguidas que esta rubrica — Imagem da Semana — é sobre o mesmo tema. Os refugiados que chegam à Europa. Tudo parece ridiculamente irrelevante quando posto lado a lado com as fotografias que nos chegam às redacções. Fazemos esse exercício dezenas de vezes por dia. As imagens são sempre diferentes e contam partes novas da história. Barcos de borracha com dezenas de pessoas apertadas umas contra as outras; praias sem gente e com dezenas de coletes salva-vidas abandonados na areia; uma mãe que chora de alívio no instante em que pisa terra firme; famílias que trepam por entre arbustos para sair da praia; comboios com gente sem malas, apenas com filhos; homens que afastam arame farpado com cobertores para as famílias passarem como lagartos rentes ao chão; um pai que implora de joelhos para que não o prendam; crianças que chegam sozinhas; uma multidão que caminha a pé ao longo da auto-estrada; tendas improvisadas num jardim de Bruxelas; um bebé morto à beira-mar.

Esta semana, a 38.ª consecutiva deste horror, voltámos a olhar para todas as fotografias. Na quarta-feira, quando esta foi tirada, chegaram ao jornal 1500 fotografias de refugiados feitas nesse mesmo dia. As fotografias chegam ao ritmo dos refugiados. Nunca são iguais.

Esta mostra a Hungria de hoje. O Governo enviou esquadrões de polícia antimotim para a fronteira com mandato para prender quem não tenha visto. Esta imagem foi tirada em Roszke, entre a Hungria e a Sérvia, a mesma onde a operadora de câmara Petra Laszlo deu pontapés a crianças refugiadas. O Governo sérvio criticou a actuação da polícia vizinha. Faz sentido abrir os canhões de água e lançar gás lacrimogéneo sobre estas pessoas? Até quando vamos aceitar que a Hungria trate desta forma indigna, violenta e desproporcionada quem fugiu da guerra? A Europa não pode receber todos os refugiados do mundo. É verdade. Mas tem de encontrar forma de receber muitos mais do que aqueles a que está disposta. E a Europa pode ganhar com isso. Muitos destes migrantes são trabalhadores qualificados prontos a receber salários baixos. Além disso, a Europa está velha e precisa de bebés. E basta olhar para as fotografias que nos mostram como estão hoje cidades como Aleppo, Damasco ou Kobani — bairros e bairros seguidos sem uma casa de pé — para perceber por que estas pessoas não podem ser recebidas na Europa com gás e canhões de água.

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Fotografia tirada na quarta- -feira em Roszke: esquadrões de polícia antimotim com mandato para prender quem não tenha visto MARKO DJURICA/REUTERS

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