Em nome do pai

Um golo de André André, no minuto 86, garantiu ao FC Porto uma vitória no primeiro clássico da época e quatro pontos de vantagem sobre o Benfica.

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André André festeja o seu golo contra o Benfica RAFAEL MARCHANTE/Reuters
O FC Porto-Benfica foi equilibrado quase até ao fim
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O FC Porto-Benfica foi equilibrado quase até ao fim Miguel Riopa/AFP

Nasceu nas Caxinas, viveiro de muitas antigas glórias “azuis-e-brancas”, e carrega nas costas em duplicado o nome do seu pai, um dos maiores símbolos do FC Porto na década de 80: André. No início da época poucos adeptos portistas acreditariam que André André conquistasse um lugar a titular no primeiro clássico da época, mas o médio fez mais do que isso: para além de mostrar uma enorme personalidade ao assumir o papel de “patrão” do meio campo dos “dragões”, André André vestiu o papel de herói do FC Porto ao marcar, no minuto 86, o golo que derrotou o Benfica na quinta jornada do campeonato português.

Intenso e quentinho em vários momentos — Rui Vitória queixou-se de entradas duras de Maxi e Maicon; Julen Lopetegui falou de uma agressão de André Almeida —, o primeiro grande clássico foi um jogo de reviravoltas. O Benfica entrou sem medo e dominou os primeiros 30 minutos, mas na segunda parte abdicou demasiado cedo de tentar vencer, permitindo que o FC Porto fosse avançando no terreno até ser feliz na parte final, uma mão cheia de minutos depois de Lopetegui receber a vaia da noite por ter retirado de campo Vicent Aboubakar.

Em tom de brincadeira, Lopetegui tinha dito na antevisão do jogo que ia mudar a equipa toda, mas, na verdade, o que o treinador espanhol fez foi decalcar a ficha de jogo da última partida para o campeonato e colocar em campo o mesmo “onze” que tinha vencido em Arouca. Ao contrário do que tinha feito em Kiev a meio da semana, Lopetegui colocou André André no sítio certo (centro do terreno), recuperou Corona para uma das alas e manteve a aposta num dos jogadores do plantel que tem à sua disposição que apresenta um futebol mais maduro: o ainda adolescente Rúben Neves.

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A fórmula, no entanto, demorou a resultar. Bem menos criativo do que o treinador rival, Rui Vitória optou por mexer o mínimo possível no “onze” que tinha somado duas vitórias e oito golos marcados contra o Belenenses e o Astana, mas tirou um “coelho da cartola” muitas vezes usado por Jorge Jesus: aparentemente proscrito na equipa do Benfica, André Almeida surgiu no meio campo, ao lado de Samaris. Apesar de ser no Benfica quase sempre segunda ou terceira opção — ainda não tinha qualquer minuto no campeonato com Rui Vitória —, André Almeida foi titular pela quarta época consecutiva no Estádio do Dragão.

Com uma atitude poucas vezes vista na casa portista nos últimos anos, o Benfica entrou no jogo sem medo e com vontade de mandar. Procurando retirar à equipa de Lopetegui o seu principal fetiche (a posse de bola), os “encarnados” jogaram avançados no terreno, pressionando o portador da bola adversário logo que o FC Porto procurava construir jogadas de ataque. Perante a estratégia de Rui Vitória, os “azuis-e-brancos” começaram por sentir muitas dificuldades e, na primeira dúzia de minutos, valeu a Lopetegui num par de vezes a atenção de Casillas (Mitroglou, aos 8’; Luisão, aos 11’). Sempre longe da baliza de Júlio César, os portistas só no minuto 44, num lance com Aboubakar e Brahimi protagonistas, ameaçou os “encarnados”.

Após o intervalo, o filme ganhou cor para o FC Porto e tornou-se a preto e branco para o Benfica. Logo aos 2’, Aboubakar acertou no poste e, 12 minutos depois, o camaronês ganhou a Jardel em velocidade, fintou Júlio César, mas a presença de Luisão evitou o primeiro golo no Dragão. Mesmo sem sufocar, os “azuis-e-brancos” colocavam o Benfica em sentido e as “águias”, que apenas num lance de Mitroglou (72’) se mostraram no ataque, começaram a dar evidentes sinais que o objectivo era levar um ponto para Lisboa.

E esse desejo pareceu bem real até ao minuto 86. Embora com ascendente, o FC Porto parecia incapaz de chegar ao golo que daria quatro pontos de vantagem sobre o rival, mas quando já poucos esperavam, surgiu um grande golo e um novo herói no Dragão: após uma jogada rápida, o regressado Varela, com classe, assistiu com um toque de calcanhar André André que, isolado perante Júlio César, fez justiça ao legado do pai, oferecendo numa bandeja a Lopetegui a primeira vitória contra o Benfica.

FIGURA DO JOGO

Tal como o pai, chegou ao FC Porto aos 26 anos, mas se o progenitor terminou a carreira sem conseguir marcar um golo ao Benfica, o filho precisou de apenas 86 minutos para o fazer com a camisola portista. Com uma enorme personalidade, André André já conquistou o Dragão e não restam dúvidas que tem a qualidade suficiente para ocupar um dos lugares do meio-campo “azul-e-branco”.

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