Da nostalgia à celebração

Depois de Kaputt, Destroyer volta com um disco que demonstra toda a sua versatilidade

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Baladas que parecem deslocadas no tempo, explosões de rock, de jazz ou de fusão. Ou seja: Destroyer em dois planos Fabiola Carranza

É o próprio Dan Bejar que o diz na entrevista que publicamos nesta edição. O anterior álbum dos Destroyer foi o único, da dezena que já lançou, com uma integridade sonora do início ao fim. 

Kaputt 

(2012) era uma obra magistral de pop electrónica elegante, apesar de tudo longe dos habituais contornos indie-rock que se conheciam das anteriores experiências do canadiano. 

Quem tiver esse excelente álbum como referência pode sair algo desiludido da primeira audição do novo Poison Season. A canção inaugural, Times Square — poison season I, envolve-nos orquestralmente, como se tivéssemos acabado de entrar numa sala de cinema para um filme impossivelmente romântico. Mas logo de seguida, em Dream lover, somos arrastados para uma pop exuberante, com qualquer coisa de efusivo — e estranha-se. 

É, apesar de tudo, uma primeira impressão, com o álbum a desenvolver-se nesses dois planos, em canções tão saudosas quanto luminosas, marcadas pelas orquestrações e pela voz terna de Dan Bejar, remetendo-nos para um mundo do qual já só parece subsistir a memória. Canções como The riverGirl in a sling ou Bangkok transportam-nos para esse universo sonhador, enquanto Forces from aboveTimes Square ou Midnight meet the rain se aproximam mais dos enquadramentos normativos da pop actual. 

Times Square
Dream lover
Midnight meet the rain

Mas a verdade é que, em qualquer dessas vertentes, Dan Bejar e o seu grupo se saem bem, umas vezes com baladas que parecem deslocadas no tempo, com ele a cantar como se estivesse a recitar poesia, e noutras com deslocações rítmicas mais expansivas, numa condensação de rock, jazz ou funk — em ambos os casos com um entendimento minucioso de formas, tempos e espaços. 

Se em Kaputt encontrávamos alguém sereno e paisagístico, no novo álbum deparamo-nos com mais versatilidade, comprovável pela apresentação de Times Square em três versões diferentes, como se Dan Bejar nos quisesse mostrar que é diferente vaguear por aquela parte de Nova Iorque sozinho, caindo na nostalgia, ou com o seu colectivo de músicos, incindindo na celebração. 

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