Teté Alhinho em piano e voz, numa homenagem a várias memórias de Cabo Verde

Esta quinta-feira em Matosinhos e sexta-feira em Lisboa, no B.Leza, a cantora cabo-verdiana apresenta ao vivo aquele que será o seu novo disco: Mornas ao Piano.

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Não é todos os dias que ouvimos falar dela, mas Teté Alhinho é uma das vozes cabo-verdianas que ninguém esquece. A solo ou no grupo Simentera, ela tem corrido múltiplos palcos e ouvido elogios onde quer que se apresente. A notícia, agora, é que Teté actua em Portugal, hoje em Matosinhos (no Teatro Constantino Nery, 22h) e amanhã em Lisboa (B.Leza, 22h) e que, dessas actuações, nascerá um disco.

Mais um, a juntar aos vários títulos da sua carreira: Mares do Sul (1988), Menino das Ilhas (1995), Sentires (1999), De-Cor-a-Som (2000), Voz (2002, com Mário Lúcio) e Gerassons (2008, gravado com a filha, Sara Alhinho). Além de uma colectânea de temas por ela cantados nos Simentera. Agora, explica, o seu novo projecto é de voz e piano.

“Tem muito a ver com a minha relação com o piano, ele esteve sempre muito presente, para mim, na música. Eu cresci com um piano em casa, comprado pelo nosso pai e havia um piano no Café Royal, onde todos os músicos iam tocar. E fiquei com esse bichinho: fazer um CD com piano. Já o CD Voz, embora feito com viola, era um pouco o prenúncio dessa vontade.” Que se concretizou no Centro Cultural Português, em Cabo Verde, num concerto a que chamou Mornas ao Piano. É esse concerto que ela traz a Portugal e que planeia registar em disco. O pianista que tocou com ela nessa noite é o mesmo que a acompanhará em Matosinhos e em Lisboa: Ricardo de Deus, um músico brasileiro, também professor de piano, radicado há muitos anos em Cabo Verde. Mas no início desse espectáculo, Teté ainda se aventurou no piano. “Como quando eu era pequena.”

Em Portugal, onde ela projecta gravar o seu novo disco, além de piano e voz haverá ainda um outro instrumento: o contrabaixo de Franklin Silva, da Orquestra Nacional de Cabo Verde. Há mornas clássicas, mas também inéditos. “Há temas novos. Duas composições minhas, duas do Mário Lúcio [fundador dos Simentera, que a acompanhou ao violão em Voz], outra do Antero Simas e de um jovem escritor de São Vicente chamado Hélio Cruz. São, no total, cinco temas. Nos outros cinco que farão parte do disco, tenho alguns antigos que o Bana cantava (ele não era compositor mas interpretava todas as mornas durante uma época). Há uma morna do Luís Silva; outra, muito antiga, que é a Sina de Cabo Verde, do Jacinto Estrela e do Gabriel Mariano; uma do B.Leza, também muito antiga; uma música do Daniel Spencer; e há um tema do Tibau Tavares. Portanto, há uma diversidade de compositores da música tradicional de Cabo Verde.”

Das mornas antigas, que ela escolheu para integrar o novo disco, Teté tem uma viva recordação de ouvi-las na rádio, ainda muito nova. “O Bana foi muito importante, e posteriormente a Titina. Porque nós tínhamos um programa, em São Vicente, chamado Músicas da Nossa Terra que dava nos últimos quinze minutos da programação de cada dia, na Rádio Barlavento. Era uma rubrica diária onde se ouviam músicas tradicionais. A essa hora eu já estava deitada, não havia televisão, e sabia-me muito bem ouvir o Bana entrar assim pela casa dentro, à noite… Ele foi o cantor da minha juventude, não só minha mas da nossa geração. Porque nos transmitia aquele sentimento, com a bonita voz que ele tinha a cantar. Depois tive oportunidade de fazer tournées com ele, em França, Holanda, ficámos amigos.” O novo disco de Teté Alhinho será, assim, uma homenagem também à memória de Bana (1932-2013). “Uma homenagem a várias memórias, às pessoas que de uma forma ou outra enformaram parte do meu percurso: a Tututa, o Bana… Esses músicos e outros, não-profissionais, que enchiam as minhas noites. Eu muito pequena, atrás da janela.”

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