O ditador no seu labirinto

O iraniano Mohsen Makhmalbaf perde a sua alegoria política num tratamento funcional indigno dos subtis pergaminhos do cinema iraniano.

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O problema do cinema interventivo é que, demasiadas vezes, é tão interventivo que se esquece de ser cinema — e o iraniano Mohsen Makhmalbaf volta a cair nessa armadilha com este O Presidente, projecto que acalentava há uma década, retrabalhado por altura das convulsões das Primaveras Árabes e finalmente rodado na Geórgia.

História de um ditador deposto que dá por si a viver na pele aquilo que fez o seu povo sofrer ao longo do seu regime, O Presidente é claramente um filme do seu momento; leva em conta o próprio exílio do clã Makhmalbaf, persona non grata após a Revolução Verde que também colocou Jafar Panahi na prisão, a par da tensão que se sente hoje nas vizinhanças da Rússia. Mas, depois de uma abertura fortíssima, Makhmalbaf cai na pedagogia linear, interminável e patuda. Num momento em que o cinema documental aborda estas questões com mais garra e em que conterrâneos como Panahi têm sabido falar do assunto sem cair nos lugares-comuns, O Presidente parece vindo de uma outra época, com a sua mise en scène de pura ilustração funcional a anular toda e qualquer tensão dramática. Uma desilusão.

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