Lojas de cigarros electrónicos “praticamente morreram”

Associação Portuguesa de Cigarros Electrónicos confirma que no ano passado havia mais de 400 espaços de venda e actualmente são menos de 30.

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Os cigarros electrónicos têm até dez vezes mais agentes cancerígenos do que o tabaco convencional DR

Espaços à venda, com anúncios de trespasse ou apenas de porta fechada. Em menos de um ano, a realidade das lojas dedicadas à venda de cigarros electrónicos passou de um “negócio próspero a um mercado esmagado”. A expressão é de Tiago Machado, presidente da Associação Portuguesa de Cigarros Electrónicos (Apece). O empresário assegura que, no ano passado, Portugal chegou a ter mais de 400 espaços dedicados à venda destes produtos e estima que neste momento não cheguem a ser sequer 30. Uma queda que atribui a dois factores: notícias “falsas” sobre os efeitos nefastos das alternativas ao tabaco tradicional e o “brutal aumento de impostos” decidido pelo Governo.

“As vendas deste ano são residuais. O Governo esmagou o sector, já nem faz sentido falar num mercado, as lojas praticamente morreram”, defende o representante da Apece, lembrando que deu conta desta preocupação ao Ministério das Finanças aquando de uma reunião em que foi ouvido sobre o tema no ano passado. “Avançaram para um imposto 12 vezes superior a Espanha. É surpreendente o amadorismo e a falta de rigor do ministério. Estava claro que nunca iam conseguir arrecadar aqueles montantes e deram cabo de um produto”, frisa. Tiago Machado explica que o imposto passou a ser de 60 cêntimos por cada mililitro do líquido que contém nicotina – o que fez com que um produto de 2,5 euros passasse a custar, em média, 8,5 euros.

Para a Apece, parte da receita fiscal do tabaco que não foi arrecadada pode ser explicada pela “morte” das lojas que vendem estes produtos alternativos, com Tiago Machado a assegurar que era o único na posse dos dados do sector e a acusar a tutela de ter avançado com previsões sem nunca lhe pedir os números. As contas da Apece apontavam para que, no ano passado, as vendas dos e-cigarros pudessem atingir um valor de 15 milhões de euros. O ano acabou por fechar abaixo dos dez milhões, com Tiago Machado a atribuir o primeiro tropeção “à voz que se deu a mentiras sobre o perigo dos cigarros electrónicos” e o segundo tropeção, que transformou o sector num “vegetal”, à carga fiscal.

No que diz respeito a estudos, o empresário refere-se a situações como o alerta da Organização Mundial de Saúde (OMS) – que vários especialistas contrariaram – de que o aerossol produzido pelos e-cigarros não é apenas vapor de água e que os seus efeitos a longo prazo não são conhecidos. Também uma equipa de cientistas japoneses, num estudo encomendado pelo Ministério da Saúde do Japão, concluiu que os cigarros electrónicos têm até dez vezes mais agentes cancerígenos do que o tabaco convencional.

Quanto ao futuro, a manter-se a carga fiscal, Tiago Machado não acredita numa recuperação. O empresário chegou a ter quase 40 espaços dedicados à venda dos chamados e-cigarros, espalhados por todo o país. Agora ficou com apenas três e teme que mesmo os locais que ainda existem tenham os dias contados, até porque a nova lei do tabaco, que entrará em vigor em 2016, equipara os cigarros electrónicos com nicotina ao tabaco tradicional, pelo que passam a estar vedados nos espaços públicos fechados.

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