Prémio António Arnaut: futuro do SNS depende da nossa capacidade de inovação

O foco no valor em saúde estimula melhorias em termos de qualidade e eficiência do sistema de saúde.

A sustentabilidade dos sistemas de saúde está no centro do debate público em Portugal e em toda a Europa.

A pressão financeira sobre o sistema de saúde é marcada pela crescente procura de serviços dado o rápido envelhecimento da população e o peso crescente das doenças crónicas. Por outro lado, os novos avanços científicos e tecnológicos trouxeram novas oportunidades e expectativas, exigindo que os serviços de saúde assegurem a sua utilização efectiva. Contudo, foi a crise financeira e económica actual que tornou urgente a discussão sobre a sustentabilidade dos sistemas de saúde. Esta crise financeira tem sido descrita como um “choque” traduzido, de forma inesperada e simultânea, no aumento da procura de serviços de saúde com redução dos recursos disponíveis.

Quando a solução de curto prazo passa por reduzir gastos públicos em saúde, a ênfase das políticas de saúde deve assentar na minimização dos efeitos adversos sobre o desempenho do sistema de saúde, através de reformas que melhoram a eficiência e o valor a longo prazo.

Em tempos de crise económica e financeira, como podemos sustentar as melhorias de saúde? A maior parte da resposta reside na inovação. A partir do impacto da inovação no desempenho torna-se possível criar oportunidades para a sustentabilidade do sistema de saúde em Portugal. Contudo, a sua capacidade para responder aos novos desafios, de forma cada fez mais efectiva, pode estar comprometida pela falta de recursos ou do apoio político necessário.

A análise de sistemas de saúde em diferentes países da Europa revela pontos consensuais na resposta a esta questão. A criação de um sistema de saúde sustentável requer a sua reorientação para os resultados e o seu valor, assim como o envolvimento de um conjunto cada vez mais amplo de atores numa estrutura de governação eficiente, focada em particular nos cidadãos e utilizadores de serviços.

O foco no valor em saúde estimula melhorias em termos de qualidade e eficiência do sistema de saúde. A participação de todos os actores-chave é essencial para a reestruturação do sistema de saúde em torno do valor. À medida que os atores individuais modificam as suas estratégias e processos, os seus benefícios reforçam-se mutuamente. Os avanços conseguidos por um dos atores deverão encorajar progressos ao nível dos outros parceiros.

A maior parte do debate actual sobre o sistema de saúde está voltada quase exclusivamente para a sua sustentabilidade económica. A análise das despesas em saúde pode ser um passo crítico na compreensão de como os custos são gerados e na identificação de ganhos de eficiência. Deste modo, é essencial apoiar a investigação sobre sistemas de saúde, incluindo as competências, os processos e modelos organizacionais. O conhecimento nesta área é essencial para a priorização de medidas fundamentadas na realidade das organizações e sistemas de saúde.

A principal implicação do estudo aponta a necessidade de estender o debate da sustentabilidade para além dos seus aspectos económicos, para olhar ainda para as suas dimensões políticas e sociais. Ao invés de focar apenas sobre os aspectos financeiros, os decisores políticos devem pensar o impacto social dos sistemas de saúde, envolvendo os diferentes sectores da sociedade no planeamento, assim como construir o consenso político necessário. Enquadrar a sustentabilidade social e política do sistema de saúde tem o potencial para se concentrar os esforços dos diferentes sectores da sociedade como parte de um sistema de saúde para hoje e as gerações futuras.

Economista da saúde da Organização Mundial de Saúde

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