Costa defende refugiados como solução para crise demográfica portuguesa

Debate entre líderes socialista e bloquista evidenciou mais divergências do que entendimentos.

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À medida que o debate foi decorrendo, os discursos foram-se distanciando Nuno Ferreira Santos

Crise demográfica, segurança social, nacionalizações e reestruturação da dívida. Foi no primeiro tópico que o debate entre o secretário-geral socialista, António Costa, e a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, revelou alguma proximidade de posições.

Os dois líderes políticos concordaram esta segunda-feira à noite, no canal TVI24, na classificação da posição europeia como um falhanço, acrescentando depois a necessidade da União Europeia e de Portugal acolherem mais refugiados.

O socialista sustentou mesmo que Portugal tinha a “obrigação, o interesse e oportunidade de o fazer”, explicando porquê: “Acho que um país como Portugal devia ser exemplar, em nome da sua história, mas também por termos um problema demográfico sério que não se resolve só com políticas de natalidade activas.” Para o candidato do PS, o acolhimento de refugiados era uma “oportunidade para o desenvolvimento dos países” e rematou dizendo que era por isso mesmo que a “Alemanha tem olhado com muita atenção” para o assunto.

Momentos antes, Catarina Martins assinalava que o número de refugiados em causa não era um problema avassalador. "Não é um problema com que a Europa não possa lidar com facilidade. São 350.000 pessoas que representam 0,05% da população europeia. Há falta de vontade política. O orçamento da UE prevê verbas específicas para estes casos. É preciso abrir corredores humanitários e que os países assumam a sua responsabilidade", disse antes de criticar o actual Governo por não se “ver nada na prática”.

Mas este foi o único tópico onde se vislumbrou a possibilidade acordo entre os dois partidos em confronto no debate. À medida que o debate foi decorrendo, os discursos foram-se distanciando. Sobre a Segurança Social, apesar do arranque promissor - quando Catarina Martins reconheceu que “quase” subscrevia “na integra” o que Costa afirmara sobre a diversificação das fontes de financiamento –, a discórdia instalou-se depois da bloquista ter ido buscar ao programa do PS aquilo que identificou como uma “redução de 1665 milhões de euros em quatro anos nas pensões”. Para Martins, esses números implicavam um corte. Mas para Costa, essa verba era um “congelamento” que significava que as pensões não iriam subir. O que era diferente do corte de 600 milhões de euros previsto pela direita. Mas Catarina Martins insistiu e acusou Costa de olhar para os pensionistas como o “porquinho-mealheiro dos saldos orçamentais”.    

A discussão sobre reestruturação da dívida alargou o fosso. Catarina Martins vaticinou que Costa ia acabar a fazer o mesmo que a direita caso não lutasse pela reestruturação e não preparasse um “eventual rompimento”. Costa respondeu com uma sucessão de perguntas. “Alguém acredita que um governo do Bloco de Esquerda conseguiria fazer aquilo que Tsipras não conseguiu? Imagina o que seria das pensões dos portugueses quando fossem convertidas em escudos?” A linha vermelha do PS, em termos de acordos governativos, foi precisamente traçada na questão do euro.

Já sobre o tema das nacionalizações, foi Costa a partir para o ataque. Tal como a bloquista fizera antes, o socialista foi buscar o programa do BE para falar de “fantasias”: “Diga lá quanto é que custa nacionalizar a Galp, a REN e a EDP?”

O debate estava a terminar quando Martins verbalizou o seu ultimato a Costa. “Se o PS estiver disponível para abandonar a ideia de cortar 1600 milhões nas pensões, abandonar o corte na TSU e abandonar a ideia do regime compensatório, no dia 5 de Outubro cá estarei para conversar sobre um governo que possa salvar o país."

E na resposta, o ex-autarca fechou a porta a entendimentos: "O que é preciso é que haja esquerda capaz de governar, sem fantasias de nacionalização, e sem estar dependente de uma ruptura com euro."

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