Quem está mal, que se refugie

“re·fu·gi·a·do — Adjectivo e substantivo masculino. (1) Que ou aquele que tomou refúgio, que se refugiou.”

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Marko Djurica/Reuters

Portugal propõe-se a receber cerca de 3074 refugiados. Sugere-se até que poderão ser mais facilmente integrados se forem trabalhar nas florestas. São números insignificantes, correspondendo a uns meros 0,03% de uma população que vai desaparecendo em modo queda-livre e deveria estar contente por ainda haver gente que nos considera como refúgio.

É bom sinal, sinal que não está tudo perdido. Sinal de que o nosso país ainda não é dos piores, apesar de muitos se esforçarem para que o seja. É obvio que acolher três mil almas não vai resolver nenhum problema na salganhada que é o Médio Oriente.

Estaremos meramente a transportar os pobres sírios do inferno entre o Estado Islâmico e Bashar al-Assad para outro inferno: o dos fogos florestais portugueses. Juntamente com a gente boa, honesta e trabalhadora que acolhermos poderão também entrar algumas maçãs podres, criando-se máfias, "guetizando-se" os acolhidos e re-introduzindo em Portugal um Al-Andaluz dos pequeninos. Mas não nos esqueçamos que também se "guetizaram" alguns portugueses nos famosos bidonvilles Parisienses, se "ganguificaram" outros "portuguese chavs" pelo Reino Unido e se criaram bairros sefarditas nos Países Baixos.

De repente, como que por magia, as redes sociais inundam-se de comentários islamofóbicos, de racistas ou xenófobos há muito tempo no armário. Pessoas que, muito provavelmente, nunca se cruzaram com um muçulmano na vida, orgulhosamente partilham histórias falsas, propaganda incendiária e perigosa. Memória curta. Somos o país do triste e resignado lema “Quem está mal, que se mude”, com vasta experiência em debandadas geracionais à procura de uma vida melhor.

Todos temos algum primo, afilhado ou conhecido que tenha ou esteja “refugiado” pelas mais diversas razões. Todos conhecemos algum parente, comadre ou vizinho que tenha um dia vindo para Portugal como retornado/refugiado. Temos por isso o dever de tratar os que que poderão vir da mesma forma como gostaríamos que fossem ou tivessem sido tratados os que amamos: de braços abertos, sorriso na boca, e um caldo verde quentinho à sua espera. E, como bons hospitaleiros que somos, vamos também substituir a rodela de chouriço por uma de alheira de Mirandela.

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