Já conhecemos Clinton e Trump, e agora estamos de olho em Sanders e Carson

É muito cedo para ter dúvidas, quanto mais certezas, mas as sondagens da corrida à presidência dos EUA estão mais agitadas do que nunca.

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Bernie Sanders tem empurrado o discurso do Partido Democrata para a esquerda Jason Miczek/Reuters

Quem anda atento à campanha eleitoral nos Estados Unidos raramente encontra títulos sem as palavras "sondagens", "Trump", "e-mails" e "Clinton". Por vezes, a atenção dos eleitores é desviada para outros candidatos do Partido Democrata e do Partido Republicano, como Bernie Sanders e Ben Carson – um socialista que empurra a campanha do seu partido para a esquerda e um antigo neurocirurgião que conquista os conservadores fartos de serem vistos como um grupo de fanáticos ignorantes.

Um e outro têm subido nas sondagens, e ainda que seja muito cedo para perceber quem tem mais hipóteses de substituir Barack Obama na Casa Branca, não deixa de ser curioso recordar os tempos em que a corrida estava terminada ainda antes de ter começado – antes do Verão, era certo que a Sala Oval iria ser ocupada ou por Hillary Clinton, ou por Jeb Bush.

Ainda que esse cenário continue bem dentro do prazo de validade, já que a corrida pela nomeação nos dois partidos é longa e cheia de armadilhas, o furacão Donald Trump não é o único com hipóteses de estragar a refeição que os Bush e os Clinton já tinham encomendado.

No Partido Republicano, o antigo neurocirurgião Ben Carson é a nova estrela em ascensão – na média das sondagens analisadas pelo site Real Clear Politics, Carson está a apenas seis pontos de Donald Trump no primeiro estado a escolher os seus favoritos para a Casa Branca, o Iowa.

O caso muda de figura no New Hampshire, que vota uma semana mais tarde, a 9 de Fevereiro de 2016, e também a nível nacional. Em ambos os casos, o magnata e estrela da televisão mantém vantagens muito mais confortáveis, mas este ímpeto da campanha de Carson já atirou com o antigo favorito Jeb Bush para 3.º lugar, com um terço das juras de amor feitas a Donald Trump.

Longe do Iowa, do New Hampshire ou da Carolina do Sul (os estados mais visitados pelos candidatos dos dois partidos por esta altura, por estarem entre os primeiros a ir a votos), Carson foi até à Califórnia na semana passada, para discursar no Centro de Convenções de Anheim.

Muitos dos que foram ouvi-lo estão desiludidos com os políticos de Washington (um trunfo muito usado também por Trump), mas em alguns casos a ligação parece ser mais profunda. Ao contrário do discurso negativo do magnata, que pode deixar para trás eleitores hispânicos e eleitores negros, tão importantes nas eleições gerais, Carson é uma dádiva para os conservadores que querem mudar não só os políticos, mas também a imagem que os Democratas e muitos independentes têm deles.

O apelo de Ben Carson ficou explícito na resposta de dois apoiantes, Kelly e Marsha Whitehill, a uma pergunta do jornalista Andrew Romano, repórter da secção de Política do site Yahoo News: "Vocês dão importância ao facto de Carson ser negro?"

"Não", responde Marsha, antes de o marido acrescentar um "mas": "Temos a esperança de que o Dr. Carson consiga relacionar-se com os americanos negros e que mude as ideias deles."

"Não vemos os Republicanos como racistas, ao contrário do que os Democratas dizem. Não percebo essa ideia. Somos racistas porque não concordamos com Obama? Este apoio [a Ben Carson] prova que isso é mentira", afirma Kelly Whitehill.

Como resumiu Andrew Romano, se o Partido Republicano quisesse combater a ideia de que está a ser dominado por um grupo de radicais intolerantes, que não acreditam nas teorias da evolução e são privilegiados e racistas, dificilmente encontrariam um candidato melhor do que Carson: "Um negro muito culto, que estudou nas melhores universidades, homem da ciência e de fé, que saiu da miséria em que nasceu e tornou-se um Republicano ao longo dessa viagem."

O "socialista democrático"
No outro lado da luta pela Casa Branca, no Partido Democrata, o cansaço com os políticos de Washington é menos notório, mas a dificuldade que Hillary Clinton tem demonstrado para se ver livre do seu emailgate está a prejudicá-la de duas formas – se assegurar a nomeação pelo seu partido, a luta deverá ser mais renhida do que se pensava há poucos meses, e antes disso poderá mesmo ter uma enorme surpresa nos dois primeiros estados contra Bernie Sanders.

A média das mais recentes sondagens dá uma surpreendente vantagem ao candidato que se assume como "socialista democrático", e que tem ocupado a sua campanha com propostas políticas concretas, que marcam uma viragem à esquerda até para quem ainda tem no imaginário os discursos de Barack Obama em 2007 e 2008.

No estado do Iowa, Sanders surge agora empatado com Hillary Clinton, e no New Hampshire a média das últimas sondagens dá-lhe uma vantagem de 11,3 pontos percentuais.

Apesar das danças das sondagens, é ainda muito cedo para ter dúvidas, quanto mais certezas. No Partido Democrata, ninguém sabe qual será o efeito de uma possível candidatura de Joe Biden, mas os estudos indicam que Hillary Clinton poderá ser mais beneficiada do que Bernie Sanders, o que anularia o recente impulso do candidato mais à esquerda. E no Partido Republicano, as desistências pelo caminho (a primeira foi a do ex-governador do Texas Rick Perry, anunciada na sexta-feira passada) vão levar os Republicanos que não gostam de Trump a beneficiar os candidatos com mais meios para chegarem até ao final da corrida, como Jeb Bush.

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