Forças de segurança do Egipto matam "por engano" 12 pessoas

O incidente ocorreu quando a polícia e Exército alvejaram os carros durante uma perseguição a “jihadistas” na região oeste do país.

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As excursões de turistas ao oásis de Bahariya são frequentes Amr Abdallah Dalsh/Reuters

O local é desaconselhado por muitos governos ocidentais, mas é um dos mais procurados pelos turistas que querem subir às dunas e ver as montanhas de quartzito branco que rodeiam o deserto negro. Foi nas dunas perto de Bahariya, no Deserto Ocidental, que as forças de segurança egípcias mataram, “por engano”, 12 pessoas, entre elas pelo menos dois turistas mexicanos.

De acordo com o ministério egípcio do Interior, num comunicado emitido no domingo à noite, pouco depois do “incidente”, realizava-se na zona de Wahat, no Deserto Ocidental, uma operação conjunta da polícia e do Exército contra jihadistas e os quatro veículos em que os turistas seguiam foram confundidos com os jipes dos terroristas.

Estavam, segundo o comunicado do Interior, numa zona interdita do deserto, e foram metralhados a partir de um helicóptero Apache. Outras dez pessoas ficaram feridas, entre elas cinco mexicanos, que estão hospitalizadas e estáveis.

“Eles não deviam estar ali”, disse à Associated Press uma porta-voz do Ministério do Turismo do Egipto, Rasha Azazi. “Não estavam autorizados e não avisaram as autoridades”.

Apesar de a instabilidade política e os atentados terem afectado a indústria turística do Egipto — (o mais mortífero ocorreu no complexo arqueológico de Luxor, em 1997, onde morreram 62 pessoas), o país ainda é bastante procurado e as excursões ao oásis de Bahariya são frequentes. As rotas usadas pelos operadores turísticos são sempre as mesmas e as autoridades sabem quais os caminhos percorridos pelos veículos, disseram os guias turísticos. Um deles, disse à BBC que a informação oficial, de que os veículos estavam num território de acesso proibido, é falsa. Uma outra fonte contactada pela estação de televisão britânica disse que as autoridades locais sabiam que aquele grupo de turistas estava em trânsito e que, inclusivamente, levava escolta policial.

As testemunhas disseram que o grupo parara no topo de uma duna e que iria em seguida fazer os preparativos para montar um acampamento e pernoitar — uma das opções que são dadas aos turistas.

O Presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, condenou o incidente e exigiu uma “investigação exaustiva” por parte do Governo egípcio. “Foi criada uma equipa para investigar o que se passou e como pôde um comboio de turistas entrar numa zona de acesos restrito”, dizia o comunicado do Ministério do Interior egípcio.

O Deserto Ocidental egípcio tem dois eixos, o sudoeste, que parte do Nilo e termina na fronteira da Líbia, e o norte-sul, que vai do Mediterrâneo à fronteira sudanesa. Na zona onde decorria a operação conjunta da polícia e do Exército, opera um grupo afiliado ao autodenominado Estado Islâmico, que controla partes da Síria e do Iraque e tem várias frentes de conflito no Médio Oriente e Norte de África.

A actividade de grupos fundamentalistas aumentou no Egipto depois de 2013, quando o Presidente Mohammed Morsi, da islamista Irmandade Muçulmana, foi deposto na sequência de um golpe militar liderado pelo general Sissi, o actual chefe de Estado. O Governo combate em duas frentes, na região do Sinai e no Deserto Ocidental — após o ataque que matou os turistas mexicanos e um número não determinado de egípcios, os jihadistas do Estado Islâmico anunciaram ter saído vencedor de uma acção militar nesta região.

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