Descobrir o tempo dos livros entre as sombras do Palácio de Cristal

Feira do Livro do Porto afirma-se como festival literário e espera receber milhares de visitantes nesta edição.

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A feira do livro do Porto tem um programa cultural que atrai os visitantes DIOGO BAPTISTA

Entre as árvores da Avenida das Tílias, no Palácio de Cristal, estão espalhados os 130 stands de editoras e livrarias que compõem a Feira do Livro do Porto este ano. As sombras e recantos do parque, que celebra 150 anos, convidam a leituras ou a momentos de contemplação. A fechar o segundo fim-de-semana este domingo, as opiniões sobre o certame dividem-se entre público, livreiros e autarquia.

Sentada a assistir uma apresentação de um trio de violinistas, Margaret Santos veio de propósito de Ílhavo para passar a tarde de sábado na Feira do Livro do Porto. É a primeira vez que vem ao evento desde que se realiza nos jardins do Palácio de Cristal, mas já está convencida que este é o “melhor local”. “Há os espaços verdes, sombras, locais para sentar, temos estes momentos de música, é possível passar aqui uma tarde à vontade”, explica a visitante, que também vem à procura de livros a preços “mais acessíveis” e gosta de explorar as “pechinchas”.

O ambiente de festival literário sente-se, sobretudo, durante o fim-de-semana, quando a feira recebe mais pessoas e decorrem mais atividades paralelas à venda de livros. Mesmo ao lado da apresentação musical, decorria uma Hora do Conto no Bibliocarro, um autocarro estacionado próximo da entrada da Biblioteca Almeida Garrett, transformado em sala de leitura para crianças.

É em família que também se vai descobrindo este mundo de livros e escritores. Como aconteceu com Hélder Martins, que veio passar o sábado com os pais e os filhos à Feira do Livro. “Não viemos à procura de nada em especial, viemos para passear”, refere o visitante. Ao lado, a mãe Lurdes Assunção conta que a família é estreante na feira a decorrer no exterior do Palácio de Cristal, afirmando que gostava mais de quando se realizava no interior do Pavilhão Rosa Mota. “Os stands estão mais espalhados, além de estarem a mercê do tempo”, realça. A chuva não é bem-vinda durante os dias da feira, que começou a 4 e termina a 20 de Setembro mas, até então, a meteorologia tem estado a ajudar, contando-se apenas um dia de chuva.

A Feira do Livro do Porto recebeu no primeiro fim-de-semana 50 mil pessoas, que vieram aos jardins do Palácio de Cristal para ver e comprar livros, além de ter recebido cerca de 6 mil pessoas nos eventos paralelos, entre exposições, debates, sessões de cinema e um festival de Spoken Word.

O balanço foi feito ao PÚBLICO pelo vereador da Cultura da autarquia. Paulo Cunha e Silva esteve no local no fim da tarde de quinta-feira para conhecer “o feedback dos livreiros”. Pelo segundo ano consecutivo, a feira é organizada pela Câmara e volta a apostar na “relação única entre cultura e natureza, num parque que estava um pouco esquecido na cidade e que a feira deu um novo protagonismo”, destaca o vereador.

Quebra de visitantes durante a semana
Se durante o fim-de-semana há mais afluência de visitantes na feira, durante a semana o espaço fica menos composto. Esta é a convicção de vários livreiros ouvidos pelo PÚBLICO.

“Ao fim-de-semana há muita concentração de pessoas entre às 14h e às 20h, mas durante a semana é fraco”, declara Jorge Meireles, livreiro da Everest, que divide o stand com outras editoras, como Presença e Gradiva. Há 25 anos nestas andanças, Jorge Meireles, que se considera um “catedrático de feiras do livro”, acredita que este não é “o local ideal” para a realização da feira, já que não atraí pessoas que estão de passagem, como acontecia na Rotunda da Boavista ou na Avenida dos Aliados.

Da mesma opinião é o alfarrabista António Duarte. “O sítio é muito deslocado dos movimentos da cidade. Neste momento, as pessoas estão na baixa, onde há mais estacionamento e transportes”, diz o alfarrabista da livraria Homem dos Livros. “Mas não vou deixar de participar só porque não estou de acordo”, declara, realçando a oportunidade que a Câmara dá aos alfarrabistas e aos pequenos projectos deestarem presentes na Feira do Livro. “É importante para divulgar a minha livraria”, defende.

Proximidade com leitores
Estar presente na Feira do Livro era “um sonho de criança” para Cátia Monteiro. Um sonho que este ano se concretiza em forma de projecto literário, que até então só existia online, e que aproveita o evento para “apresentar-se fisicamente à cidade”. No stand da Flâneur, sente-se um “cheirinho” da futura livraria, que abre portas no dia 26 de Setembro na zona da Constituição. “A Feira do Livro continua a ser o grande momento do ano, pois permite o contacto com os leitores e a partilha de experiências”, afirma a livreira, que destaca a importância de eventos como este para as livrarias independentes.

Além do contacto entre livreiros e leitores há também a possibilidade de contactar com escritores. Para João Tordo, este momento “faz lembrar o tempo em que havia tempo”. “É o tempo que tem um livro no meio”. O escritor, que esteve numa sessão de autógrafos na tarde de sábado, refere que “o contacto com os leitores é muito bom”. “As pessoas têm sempre ideias mais interessantes do que tu sobre o teu próprio livro”, refere João Tordo.

Ainda há tempo para descobrir a homenageada deste ano. Agustina Bessa-Luís recebeu uma tília nos jardins do Palácio, mas a melhor homenagem que se pode fazer “é ter os seus livros disponíveis”, diz o vereador da Cultura. No stand da Antunes Livreiro tem havido muita procura dos livros da escritora. “Todos os dias temos pessoas que procuram a obra de Agustina Bessa-Luís. Há quem queria conhecer outros livros, há quem nunca tenha lido nada dela e peça recomendações sobre o que ler”, confirma Natasha Silva. A livreira considera que esta é uma forma “de divulgar a sua obra, que se calhar estava um pouco esquecida, além de captar a atenção de pessoas mais novas”.

Não há um barómetro exato para saber se as pessoas estão a ler mais a cada edição da feira, mas Dina Ferreira, da livraria Poetria, nota que “há uma onda em direção a uma maior leitura”. A livreira considera que este ano “há mais movimento e mais pessoas” na Feira do Livro e que “os mais jovens têm procurado os grandes clássicos e os nossos grandes poetas”. 

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