Coligação aguenta desencanto com Passos no debate e não muda discurso

Sociais-democratas e centristas admitem que invocação de Sócrates foi excessiva.

Foto
A possibilidade de Passos Coelho dar mais entrevistas continua em aberto Enric Vives-Rubio

A coligação Portugal à Frente deu sinais de que não pretende mexer no discurso ou na estratégia de campanha, um dia depois de a prestação de Passos Coelho no frente-a-frente com António Costa ter desiludido os apoiantes da maioria. No PSD e no CDS reconhece-se que o líder do PS pode ter ficado em vantagem, mas é Passos Coelho quem passou a imagem de ter capacidade para “governar a casa”.

Animada por uma forte mobilização interna, a coligação PSD/CDS assegura que não haverá alterações de discurso, embora não divulguem aspectos de estratégia de campanha como a possibilidade de Passos Coelho dar mais entrevistas televisivas – a questão mantém-se em aberto – ou se a sua cara vai aparecer em próximos cartazes. “Os portugueses conhecem-nos, sabem o que esperam de nós. Não perceberiam se houvesse inflexões de discurso”, afirmou o director de campanha, José Matos Rosa, durante uma apresentação aos jornalistas da volta dos líderes da coligação.

Questionado sobre se Passos Coelho irá dar mais entrevistas, Matos Rosa diz que a questão está em aberto e que a única recusa foi a participação no novo programa dos Gato Fedorento, na TVI. “A estratégia não se comunica, executa-se”, disse.

A posição oficial da coligação esconde algum do desânimo de sociais-democratas e de centristas depois do frente-a-frente entre Passos Coelho e António Costa. Houve quem alegasse que o modelo de debate escolhido - com uma forte restrição de tempos -  não favoreceu o líder do PSD, que é "muito explicativo" na forma como desenvolve as ideias. Já a invocação de José Sócrates é criticada por ter sido excessiva. 

Dirigentes da maioria ouvidos pelo PÚBLICO reconhecem que Passos Coelho exagerou ao referir pelo menos seis vezes o nome do ex-primeiro-ministro socialista, mas consideram que essa colagem entre os dois líderes do PS pode ter efeitos eleitorais positivos. Há quem lembre que, nas eleições europeias de 2014, foi a invocação da governação de Sócrates que permitiu conquistar votos a favor da coligação. “Aqui pode ser a diferença entre ganhar e ter a maioria absoluta”, observa um social-democrata.

A coligação PSD/CDS foge a medir forças entre os candidatos a primeiro-ministro - por ter Passos em desvantagem - e prefere sublinhar a imagem de credibilidade do primeiro-ministro. “Do ponto de vista dos comentadores pode ser relevante medir a iniciativa. Mas do ponto de vista do eleitorado, o que conta é quem é mais credível. E Passos Coelho manteve sempre um nível de credibilidade política acima de António Costa”, sustenta Nuno Magalhães, líder da bancada do CDS, e candidato nas listas por Setúbal. Para Diogo Feio, vice-presidente do CDS, os efeitos de prestações televisivas ou de sondagens têm “uma validade política muito limitada”.

Outros dirigentes da maioria admitem que a prestação de António Costa pode ter animado as hostes no PS. “Pode ter dado um novo fôlego aos socialistas”, tendo em conta que “eles estavam moribundos”, diz Hugo Soares, vice-presidente da bancada do PSD. O deputado, candidato por Braga, faz no entanto uma distinção entre a imagem dos dois líderes: “Para entretenimento é António Costa, para governar a casa é Passos Coelho”.   
PS mantêm estratégia
Na ressaca do frente a frente com o líder do PSD e da coligação Portugal à Frente, Passos Coelho, o secretário-geral do PS, António Costa, estava “tranquilo” com o resultado da sua prestação televisiva. O alívio que a prestação televisiva de Costa provocou nos socialistas foi manifesto e funcionou como um suplemento de ânimo entre as hostes do partido.

Ainda que o clima no PS tenha melhorado, de acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO, não há nenhuma mudança de estratégia. A ideia é a de continuar as orientações para a campanha que estavam já em marcha. Ou seja, prosseguir as acções de campanha que apostam em difundir a imagem de Costa e as propostas socialistas, em várias acções diárias, se bem que nem sempre acompanhados pela comunicação social.

O estado-maior da campanha dos socialistas não pretende valorizar o debate contra Passos Coelho e sublinha que o PS considera que “as eleições não se perdem nas sondagens, nem se ganham nos debates, ganham-se nas urnas”. Ou seja, a direcção do PS não insufla o seu entusiasmo devido a um debate em que Costa esteve bem, na mesma proporção em que faz questão de não assumir oficialmente ou até oficiosamente que a perda de intenções de voto que tem registado nas sondagens podem ter algum significado real e que possam traduzir a possibilidade de o PS vir a sair derrotado das urnas a 4 de Outubro.

"Os militantes socialistas viram o debate como o resto do país viu, com Passos Coelho focado no passado, nas justificações e em consolidar uma história que a vida concreta dos portugueses não reflecte, e vimos o António Costa sem medo, nem do passado nem do futuro”, afirma o dirigente nacional Porfírio Silva, explicando que a prestação do líder do partido era aquela que esperava.

 

 

Ao PÚBLICO, o dirigente nacional, responsável pela coordenação política, lamenta que o PSD tenha recusado os debates que foram propostos. “Nós aceitamos as propostas das televisões para que houvesse três debates destes, que o PSD recusou, porque sabemos que se os fizéssemos, teríamos outras tantas oportunidades de mostrar como o nosso candidato é melhor, como o nosso projecto é melhor e como o nosso programa é melhor”, frisa.

Porfírio Santos não esconde o conforto pela prestação do líder do partido e revela que os socialistas “ficaram motivados” ao ver António Costa “explicar-se muitíssimo bem, a mostrar o que é que está bem e o que é que está mal e a mostrar que é o senhor da confiança que o país precisa”, deixando claro que o partido manterá a mesma estratégia que foi definida.

Puxando pelo trabalho que o partido tem feito, o dirigente socialista enaltece o “programa sério que o PS apresentou ao país e as contas feitas” e realça o facto de António Costa não assumir compromissos nem fazer promessas que não sabe se pode cumprir.

A isto junta um outro elemento: a credibilidade do candidato do PS a primeiro-ministro. E declara: “Precisamos de devolver estabilidade à vida das pessoas, à vida das empresas à vida das famílias, à vida do país e isto tem de ser feito com quem tem credibilidade para fazer isso e isso ontem ficou claríssimo, essa é a nossa linha e vai continuar a ser”.

 

 
 

 

 

Sugerir correcção
Ler 56 comentários