Investigação alerta para burnout dos polícias

Quando chegam à profissão estão bem, mas estudo mostra que progressão do mal-estar psicológico, cansaço emocional e stress crónico no trabalho aumentam à medida que os polícias vão sendo colocados no terreno. Burnout é típico em pessoas altruístas que se dedicam muito ao emprego.

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Os sintomas psicológicos do burnout podem ser um cansaço extremo, falta de paciência para atender os outros, o que é grave em profissões de ajuda como os bombeiros, polícias ou médicos Bruno Lisita

Os polícias portugueses apresentam bom estado psicológico no primeiro ano de serviço, mas à medida que vão para o terreno registam mais problemas psicológicos, que no limite podem levar ao suicídio, alerta uma investigadora da Universidade do Porto.

A agência Lusa teve acesso a estudos realizados pela investigadora Cristina Queirós, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, em conjunto com psicólogos da Divisão de Psicologia da PSP, sobre o Burnout e indicadores psicopatológicos em polícias, que revelam que os jovens agentes da PSP, colocados em Lisboa, apresentam no seu primeiro ano de serviço efectivo “valores baixos de burnout”, “bom estado psicológico” e “realização profissional boa”.

O Burnout e indicadores psicopatológicos em polícias e outros estudos científicos vão ser apresentados no III Congresso Internacional sobre Condições de Trabalho, que vai decorrer na quinta e na sexta-feira, no Porto.

A investigadora diz que a progressão do mal-estar psicológico, cansaço emocional e stress crónico no trabalho aumentam à medida que os polícias vão sendo colocados no terreno, principalmente no actual momento de crise, em que são confrontados com “mais exigências emocionais” e “cada vez menos recursos”.

Os polícias enfrentam pessoas que também lidam com mais dificuldades e se tornam mais exigentes, explica, e, também por isso, vão “piorando do ponto de vista psicológico”, pois diminui a realização profissional e a motivação para as tarefas, aumentando a exaustão emocional, proporcionando o aparecimento da síndrome de burnout, uma reacção ao stress crónico no trabalho que se caracteriza por três grandes dimensões. A primeira é a exaustão ou cansaço emocional do sujeito que se levanta já cansado para o trabalho, está cada vez mais desmotivado, mais triste e que no limite pode conduzir ao suicídio.

Nos polícias, o suicídio é um “problema dramático, porque eles têm uma arma”. “Num momento de desespero, um polícia pega na arma e é muito mais eficaz”, alerta Cristina Queirós, reforçando a ideia da importância de “prevenir os sintomas”, porque o polícia em stress tem um acesso fácil a armas, o que não acontece tão facilmente noutras profissões num momento de desespero no trabalho.

A segunda dimensão é a “despersonalização” ou “frieza”. O sujeito para se defender dos sintomas anteriores começa a tratar os outros mal, de forma indiferente e reagindo de forma agressiva.

Quando a exaustão ultrapassa um determinado limite, a realização profissional diminui e o cinismo aumenta, explica Cristina Queirós, observando que, nesse estado, a pessoa não tem forças para se controlar.

“Não se acorda em burnout, é um processo lento”, conta a investigadora, que considera urgente alertar as pessoas que sofrem de burnout para identificarem as fontes de stress e aprenderem a reagir, “não centrando as energias todas no trabalho”.

O burnout acontece, por norma, a meio da carreira, entre os dez a 15 anos de actividade e não se nota no fim da carreira, porque quando entram em burnout, muitas pessoas mudam de profissão.

É típico em pessoas altruístas que se dedicam muito ao emprego e pode ser afectado por outras características individuais, como por exemplo o estado civil, sendo mais propensos os não casados ou sem relação afectiva estável.

Os sintomas psicológicos do burnout podem ser um cansaço extremo, falta de paciência para atender os outros, o que é grave em profissões de ajuda como os bombeiros, polícias ou médicos.

Sintomas depressivos, irritabilidade, auto-agressividade ou hetero-agressividade, sensação de vazio e cansaço físico e emocional extremo são outros sintomas.

Os sintomas físicos são mais difusos, normalmente doenças físicas, alergias, problemas respiratórios, mais facilidade em ter constipações ou gripes, problemas gastrointestinais, dores de cabeça, diarreias, aperto no peito ou dores musculares.

O congresso internacional arranca na quinta-feira com a conferência de abertura intitulada “Fundações Europeias para a Melhoria de Vida e das Condições de Trabalho: 40 anos (1975-2015)”.

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