Regresso

Setembro já chegou: as aulas vão começar, os debates políticos decisivos aproximam-se ?e pode ser que nos entusiasmem. É tempo de recomeçar

Setembro é sempre um tempo de regresso. Terminadas as férias, retomo em pleno todas as minhas actividades. As aulas na Faculdade de Medicina de Lisboa começam este mês e novos alunos vão ouvir-me com atenção, cheios de expectativas para um ano escolar com muito boas notas, como quase todos ambicionam. Terei mais temas para as minhas crónicas semanais nesta Revista 2, porque o Verão é mais propício a textos mais simples e despreocupados (verifico agora que escrevo semanalmente há 20 anos: a minha primeira crónica, intitulada “Não falem mais de geração rasca”, foi publicada na Notícias Magazine em Novembro de 1994 mas, infelizmente permanece bem actual, quando escrevi: “penso (...) que todos devemos meditar no modelo de sociedade que estamos a criar, onde todos parecem viver numa vertigem e onde quase não sobram minutos para nos olharmos”).

Estas férias confirmaram algumas das minhas ideias mais recentes, que os 20 anos decorridos desde a primeira crónica ajudaram a sedimentar (descanso mas nunca deixo de olhar à minha volta). Foi evidente a mudança das famílias: os pais estão mais atentos aos filhos, as praias enchem-se de famílias em que homens e mulheres brincam com as crianças, com os progenitores do sexo masculino a não terem qualquer receio em demonstrar afecto pelos mais novos; os adolescentes aproveitam a disponibilidade dos adultos para solicitar transportes para praias distantes, ou para discotecas onde é difícil chegar sem carro; a Internet é agora o centro do entretenimento juvenil, local que se visita a todo o instante e onde tudo interage e se combina; a política quase desaparece do quotidiano e custa a crer que estamos a um mês de eleições tão importantes, que podem fazer mergulhar o país numa situação de difícil governabilidade: as poucas notícias que saíram não entusiasmaram ninguém e tudo se esqueceu numa conversa na areia ou numa meia hora de um bar ao ar livre.

As noites de férias confirmaram o fascínio que exercem sobre os jovens: vi-os em grandes grupos no Algarve e na Praia Grande, às vezes a beber na rua porque os bares estão cheios ou nem sequer os querem acolher, porque assim é mais fácil fingir que não venderam álcool a menores de 18 anos (num local de férias que visitei, um parque de estacionamento estava cheio de carros com porta-bagagens abertos, onde centenas de adolescentes se abasteciam de cerveja e por ali ficavam a conviver).

Estas reacções à nova lei do álcool foram, aliás, uma das novidades deste Agosto que acabou há uma semana: ficou demonstrado que as restrições ao consumo dos menores de 18 anos, previstas no novo enquadramento legal, só terão algum sucesso se forem acompanhadas por acções de formação nas escolas e por medidas restritivas rigorosas nos locais de consumo de álcool, que devem passar, nos casos de reincidência de venda ilegal, por cessação das respectivas licenças de venda. Todavia, parece uma batalha difícil: está tão ritualizado o consumo de cerveja pelos jovens que já todos se organizaram para as novas regras de consumo, basta arranjar um amigo mais velho que depressa a bebida chega a todos…

Setembro já chegou: as aulas vão começar (nas escolas básicas e secundárias nada cedo), os debates políticos decisivos aproximam-se e pode ser que nos entusiasmem.

É tempo de recomeçar. 

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