Cartas à Directora
Defender o Português
Recentemente o deputado Ribeiro e Castro tem vindo a abordar um tema que diz respeito a todos os que falam o português – a defesa da nossa língua. As suas preocupações merecem pois a nossa atenção.
Contudo o caso da Patente Unitária Europeia não me parece uma área que suscite tanta preocupação. Ribeiro e Castro omite deliberadamente o caso de Espanha e da língua espanhola: haverá no mundo menos hispano-falantes do que lusófonos? E será o italiano também uma língua cultural secundária? O próprio russo que Ribeiro e Castro decretou como não-europeu – disparate ou distração – não pertence à União Europeia mas não é secundário.
Por isso julgo que as batalhas principais de defesa do nosso idioma não residem neste âmbito (os espanhóis não são assim tão distraídos). Há, em meu entender, outro tema urgente a debater: o da qualidade, escrita e falada, do português atual, de modo a que permaneça claro, fluido e inteligível para todos os seus utentes. Nesta área é importante lutar contra a influência perniciosa da involução dos falares lisboetas, propagados sobretudo pela televisão: o falso ditongo “io” (rio, frio, tio, etc.), a adulteração total do “ê” no ditongo “ei” convertido em “âi” (feito, leite, peito). E mais recentemente a morte progressiva das regras da eufonia que sempre converteram dois “ââ” fechados em “á” aberto: (ex: da análise, para a frente, cada animal, etc.) evitando hiatos cacofónicos.
Estas regras foram sempre intuitivas ao longo dos mais de 80 anos da minha vida, praticadas por todos em todas as regiões de Portugal, do Brasil, de Goa, Macau e África lusófona – até que agora estão a ser demolidas por vários profissionais – com relevo para locutores da versão portuguesa da “Euronews” , mas também de canais nacionais. Parece-me que a correção na origem de desvios tão óbvios (que tornam a língua mais surda e menos inteligível) deve ter alguma prioridade.
Não entendo, para ser sincero, muitas das críticas à reforma ortográfica (sempre perfectível), já que vivi pelo menos três versões diferentes, de finais do século XIX e do séc. XX – em geral orientadas para a supressão de letras que, em versões arcaicas, deixaram de se ler. Mas este é um assunto mais complexo, em termos emocionais – embora permaneça importante.
Eugénio Mota, Algés
Ex-deputado Constituinte, ex-diretor de Relações Internacionais
O PÚBLICO ERROU
A ilustração que acompanha a crónica urbana da Revista 2 deste domingo não é da autoria de Mário Bismarck, como erradamente se assinala, mas de Nuno Sousa. Aos ilustradores as nossas desculpas.