Compre um livro, veja uma exposição, diga o que pensa e ande de balão

A Feira do Livro do Porto instala-se na Avenida das Tílias, nos jardins do Palácio de Cristal, entre 4 e 20 de Setembro.

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Feira deste ano terá mais pavilhões do que em anos anteriores Paulo Ricca/Arquivo

Os livros quase se perdem no meio de tudo o que se anuncia para a Feira do Livro do Porto, que começa na próxima sexta-feira e se prolonga até 20 de Setembro. Durante a apresentação do evento, esta terça-feira, na Biblioteca Pública Municipal do Porto, nos jardins do Palácio de Cristal, falou-se muito mais de exposições, ciclos de cinema, debates, da homenagem a Agustina Bessa-Luís, de um festival de spoken word, da felicidade ou de um Speakers’ Corner à moda da cidade.

Mas, para quem vai à feira apenas por eles, pelos livros, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, o vereador da Cultura, Paulo Cunha e Silva, e o administrador da empresa municipal Porto Lazer, Nuno Lemos, garantem que este ano haverá mais oferta e mais conforto.

“A feira cresceu 30%”, afirmou Cunha e Silva, indicando que este aumento se reflecte no número de pavilhões (passam dos 106 para os 130), das entidades presentes (de 83 passam para 111), das editoras (de 49 para 62) e dos livreiros (sobem de 12 para 19). Mesmo assim, não houve lugar para todos, mas a câmara acabou por decidir não levar a feira para lá da Avenida das Tílias.

“Temos de viver com o que temos. Se começamos a expandir, qualquer dia estávamos a dizer que tínhamos de sair do Palácio de Cristal, porque a feira já não cabia lá”, disse Rui Moreira. Nuno Lemos acrescentou que o pavimento da Avenida das Tílias foi alterado, para proporcionar maior conforto, e que houve “um reforço para o dobro da iluminação” nocturna.

Além disso, existem, a pedido dos participantes, 25 expositores “totalmente abertos, onde o público poderá entrar”, ao contrário do que acontecia no ano passado, quando a feira foi organizada, pela primeira vez, apenas pelos serviços municipais e já sem a presença da APEL – Associação Portuguesa de Editores e Livreiros.

Pequenas mudanças que permitiram tornar melhor o que já fora considerada “uma aposta ganha”, lembrou Rui Moreira, convencido de que, este ano, a feira tem “todos os ingredientes para que volte a ser um sucesso”. E isso, defende desde o início Cunha e Silva, só pode ser possível transformando a feira de venda de livros com descontos num “festival literário” que, este ano, homenageia Agustina Bessa-Luís e ganhou um novo atractivo: o Speakers’ Corner.

O púlpito, instalado depois da Concha Acústica, será um espaço para falar de livros e de felicidade (o tema da feira), mas o vereador da Cultura garante que não haverá “censura” e que o local inspirado no famoso espaço da capital britânica será de “liberdade absoluta”, ainda que seja pedido aos oradores que não fiquem por ali mais de 15 minutos e (pelo sim, pelo não) não esteja ainda decidido se vão ter um megafone à disposição.

De felicidade vai ouvir-se falar também, e muito, na programação preparada pela autarquia. O ciclo de dez debates começa no sábado, 5, sob o tema Agustina – Um Mundo Feliz?, com a participação de Isabel Ponce de Leão e da filha da escritora, Mónica Baldaque, moderadas por Zita Seabra, e termina no dia 20, com Pedro Batista a moderar as posições de Inês de Medeiros e Paulo Rangel sobre o tema Memórias Políticas: Um Passado Feliz?.

O cinema projectado no auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett também irá tentar responder à pergunta temática A Felicidade e o Cinema: Palavras para Quê? através da apresentação das obras Alphaville (dia 6, às 19h), É Feliz o Homem que é Alto? (dia 8, 21h30), A Palavra (dia 10, 21h30), Wittgenstein (dia 13, 19h), Felicidade (dia 15, 21h30), Branca de Neve (dia 19, 21h30) e Morte em Veneza (dia 20, 21h30).

No edifício da biblioteca, na Galeria Municipal do Porto, estarão também patentes três exposições durante toda a duração da Feira do Livro, uma das quais, com curadoria de Inês Pedrosa, também dedicada a Agustina. Agustina Bessa-Luís: Vida e Obra vai ter a companhia de Coral – Um Livro, Uma Capa, que permite descobrir a capa que alguns ilustradores criariam para outros tantos livros (curadoria de Júlio Dolbeth), e [Con]Texto – A Arte, a Palavra e o Livro, uma exposição em torno da arte e do texto que estava a ser preparada desde o ano passado com Luís Serpa e que acabará por ser também uma homenagem ao galerista e curador, que morreu em Abril deste ano.

No mesmo espaço estará ainda o novo Salão Independente – uma oferta cultural que não foi programada pelos serviços municipais, mas nasceu de propostas chegadas à câmara e que o pelouro da Cultura entendeu terem interesse suficiente para terem um espaço na feira. Estão marcadas apresentações de livros, entrevistas, tertúlias e debates, mas Paulo Cunha e Silva diz que podem ainda surgir mais propostas.

Este ano, assinalam-se também os 150 anos dos jardins do Palácio de Cristal e a Porto Lazer tratou de levar a efeméride para o programa de animação que preparou para a feira. Por isso, além de regressar o novo circo ou o jazz aos jardins, vai andar também por lá um balão de ar quente, numa evocação do voo do francês Emilien Castanet, que, a 2 de Dezembro de 1883, “se lançou destes jardins num balão que haveria de se perder no mar”, lê-se no jornal da Feira do Livro, e também um fotógrafo à la minute.

Com a montagem dos pavilhões a andar a bom ritmo, a feira está quase pronta para abrir as portas, de novo sem inauguração oficial. O acto mais simbólico do evento está marcado para sábado, às 17h, quando uma das tílias da avenida será dedicada a Agustina Bessa-Luís, recebendo uma frase da autora retirada de Dicionário Imperfeito (2008): “O amor é o invisível no habitual”. 

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