Ela governava pelo Whatsapp e agora é procurada pela polícia

Lidiane Leite, de 25 anos, está fugida há duas semanas. Enviava indicações a mais 200 quilómetros da sua cidade e terá desviado centenas de milhares de euros das escolas de Bom Jardim.

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Há mais de dez dias que a polícia federal no Brasil procura Lidiane Leite, a ex-presidente da Câmara de Bom Jardim, no estado do Maranhão, de quem suspeita ter participado num esquema que desviou centenas de milhares de euros de programas de alimentação e ensino na cidade.

A polícia já deteve vários responsáveis da Câmara, incluindo os ex-secretários da Agricultura e Assuntos Políticos, António Gomes da Silva e Humberto Dantas dos Santos, respectivamente. Mas, da jovem presidente de câmara, de 25 anos, não há notícia desde o dia 20 de Agosto, embora as autoridades tenham reforçado a vigilância em vários pontos de Bom Jardim.

Há notícias, porém, sobre o seu governo em Bom Jardim. Segundo os procuradores brasileiros, Lidiane Leite mudou-se para a capital do Maranhão depois de vencer as eleições para a Câmara de Bom Jardim, a cerca de 275 quilómetros de distância. Era de São Luiz que a ex-autarca — substituída na semana passada pela sua vice-presidente — governava a cidade. As suas indicações eram enviadas por mensagem, a partir da aplicação móvel WhatsApp.

Mas não era Lidiane Leite quem tomava a maior parte das decisões sobre Bom Jardim, uma das cidades mais pobres do Brasil. Era Humberto Dantas dos Santos, conhecido como Beto Rocha, ex-namorado de Lidiane, seu mentor político e um dos dois responsáveis da Câmara detidos há duas semanas.

A ex-vereadora, aliás, só se candidatou ao cargo em 2012, com 22 anos, porque Beto Rocha fora impedido pela justiça brasileira de o fazer. Terá sido com o dinheiro de Beto Rocha, indiciado por corrupção, que Lidiane Leite se candidatou e venceu as eleições. Representava então o Partido Progressita e venceu contra o candidato do PMDB, o segundo maior partido da coligação governamental. Meses depois, diz a polícia, começou o esquema de corrupção.

A ex-autarca, membros da Câmara de Bom Jardim e empresários desviaram cerca de 520 mil euros em contratos de reabilitação de escolas para empresas que não existiam. A Câmara também não pagou os cerca de 4500 euros anuais a que 16 famílias de agricultores tinham direito para entregarem comida a várias escolas no município.

A procuradoria suspeita que o dinheiro tenha ido para as contas de vários responsáveis. Lidiane Leite e o seu advogado recebiam também várias transferências da Câmara de Bom Jardim, aparentemente injustificadas. Em pouco mais de um ano, estes pagamentos totalizavam cerca de 60 mil euros.

Segundo os censos de 2010, mais de 70% da população de Bom Jardim recebia o salário mínimo nacional ou menos. E há muito que a ex-vereadora era criticada pelos habitantes da cidade pela ostentação de riqueza que demonstrava nas redes sociais.

A ex-vereadora já tinha um registo longo de má-conduta na Câmara de Bom Jardim mesmo antes de ser procurada pela polícia. Em Dezembro de 2014 foi afastada por 180 dias por irregularidades no regresso às aulas e envio de alimentos às escolas, segundo escreve o portal G1, ligado à rede Globo. Nos primeiros meses de 2014 já fora indiciada por má-conduta no cargo.

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