Emigração é coisa de país pobre

A grande maioria dos portugueses que têm emigrado nestes últimos anos nunca o faria se tivesse cá emprego digno, salário consentâneo com a sua formação e expectativas de carreira

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Dado que Portugal tem assistido, nos últimos anos, a um fenómeno emigratório quase sem precedentes na sua história, o tema da emigração tem estado na ribalta mediática.

Muitas vezes, o tema tem dado origem a acesos debates, com uns a salientarem as virtudes da emigração (o alargar de horizontes e o ganhar de experiência), e outros a denunciar a miséria que a alimenta (porque as pessoas emigram por necessidade, não por vocação). E tem mesmo sido um cavalo de batalha política entre os defensores do actual governo e os seus opositores: porque o Governo apenas se preocupa com o cumprir da austeridade (e até teve o desplante de incentivar à emigração, algo que um líder nacional nunca poderia ter feito) enquanto a oposição denuncia a emigração (qualificada e não qualificada) como uma sangria, um desperdício de recursos e uma infelicidade nacional.

Sobre este tema muito já foi dito e percebe-se bem que há visões diferentes (e inconciliáveis) sobre o mesmo. Mas penso que vale a pena focarmo-nos no que não é opinativo, mas factual e inelutável: 1. Portugal apresenta, hoje, taxas de emigração superiores àquelas que apresentava durante os anos 60 do séc. XX, quando os portugueses fugiam da fome, da pobreza rural, da ditadura e da guerra e partiam em busca da civilização; 2. no mundo, se hierarquizarmos os países de acordo com as suas taxas de emigração, constatamos uma fortíssima correlação entre as taxas de emigração elevadas e situações de pobreza, de desemprego, de ditadura, ou de guerra (estatisticamente, a emigração é coisa de país pobre). Não é por acaso que as pessoas fogem de África, da América Latina, do Médio Oriente, ou de muitas regiões asiáticas. Não é por acaso que são pouquíssimos (em percentagem da população) os emigrantes japoneses, suecos, dinamarqueses, noruegueses, franceses ou americanos. Como diz o poeta “ninguém sai donde tem paz”.

A grande maioria dos portugueses que têm emigrado nestes últimos anos nunca o faria se tivesse cá emprego digno, salário consentâneo com a sua formação e expectativas de carreira (quanto descaramento há naqueles lusos privilegiados que se vangloriam das suas iniciativas migratórias, do seu espírito aventureiro e empreendedor, e menorizam e insultam de piegas os que se queixam de se verem forçados a emigrar?).

Ou seja, por mais voltas que se dê, ninguém consegue ser honesto nos seus argumentos e dizer que é positiva esta emigração que nos assola. Pelo contrário, esta emigração que nos assola é uma vergonha nacional, um sinal claro do fracasso do país (e da governação) e tem que ser a primeira prioridade a combater por um novo Governo.

É que só estancando esta sangria de juventude e inteligência será possível ter esperança em Portugal e conseguir que, finalmente, deixemos de ser um país semi-pobre para passarmos a ser um país próspero, onde só emigra quem quer, porque quer e quando quer.

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