“Se há algo que é motivo de angústia no país é o futuro dos jovens”

O comício de “arranque” da campanha socialista encerrou um acampamento da JS, em Santa Cruz, Torres Vedras. António Costa escolheu o emprego, a educação e o “contrato entre gerações” para mostrar que é possível “virar a página”

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António Costa fez a sua rentrée entre os jovens Bruno Lisita

No mesmo sítio onde os jovens da JS e os seus camaradas europeus faziam o fim de festa (só até às duas da madrugada) nas noites da última semana de acampamento, António Costa deu início ao “arranque final desta campanha” eleitoral. O mote estava dado: “É do futuro que trata a nossa campanha.”

Para pôr fim à “espiral de morte” (expressão que citou, de Paul Krugman, sobre a emigração de jovens qualificados portugueses), Costa lançou algumas propostas nas áreas do emprego, educação e, sobretudo, construiu todo o seu discurso em torno da ideia de que o futuro da geração mais nova é importante para toda a sociedade. “A confiança do país constrói-se dando confiança às novas gerações”, disse, depois de recordar os “350 mil jovens qualificados que emigraram” nos últimos anos e a alta taxa de desemprego jovem do país.

“Não é uma questão de palavras ou de promessas: é ter as políticas certas”, afirmou. Desde logo, “repor a educação como prioridade da acção política”. Generalizar a cobertura do ensino pré-escolar a todas as crianças acima dos três anos, introduzindo o ensino artístico nos currículos, oferecer várias saídas no secundário, foram algumas das propostas que avançou nesta área. Mas também agindo no mercado de trabalho.

“Temos de vencer esta situação absurda de cada vez adiarmos mais a idade da reforma e termos cada vez menos emprego para os jovens.” Criticando, com dureza, os programas de estágios profissionais criados pelo actual Governo, Costa disse ser “inaceitável continuarmos a gastar recursos públicos para financiar a precariedade”.

Recordando uma entrevista de Passos Coelho, Costa criticou a “frustração” do primeiro-ministro por não ter conseguido “reduzir os custos do trabalho”. Para o líder do PS, esta revelação de Passos é “uma ameaça do que queria fazer se voltasse a ter a oportunidade de ser primeiro-ministro”. O ciclo de “empobrecimento e precariedade” só terminará, afirmou Costa, com “empregos de qualidade, dignidade e futuro”. Para os jovens, em primeiro lugar. “Precisamos deles mesmo a sério, e não para estarem a trabalhar num call-center.”

Foi, aliás, numa conversa com jovens que emigraram por não terem hipóteses de trabalhar em Portugal, que Costa disse ter vivido “um dos momentos mais dolorosos” dos seus últimos meses. “A direita gosta muito de falar de números”, criticou, “mas a vida de cada um de nós não é uma fracção de qualquer percentagem”. “Se há algo que é motivo de angustia no País, é o futuro dos jovens.”

As bandeiras da JS agitaram-se. Embora não estivesse cheio, o recinto recebeu várias centenas de militantes e simpatizantes. E, para evitar mal-entendidos, os jovens de delegações estrangeiras não foram convidados a assistir ao comício. E estavam em Santa Cruz mais de 400...

Embora falando para jovens, e sobre o “futuro”, Costa explicou por que defende um “contrato de gerações”. “Não aceitamos que na nossa sociedade possa haver uma divisão entre novos, de meia-idade e mais velhos. As gerações unem toda a sociedade.” E deu um exemplo: a partilha do trabalho, incentivando as empresas a criar “postos de trabalho a tempo inteiro” para jovens e a aceitar a “reforma a tempo parcial” dos trabalhadores que o desejem.

Antes do líder do PS falou o anfitrião deste encontro, o líder da JS, João Torres, que organizou o acampamento que reuniu em Santa Cruz mais de mil jovens de 30 países europeus. No palco estiveram, ainda, Nina Zivanovic (ver reportagem), a secretária-geral da YES, organização europeia das juventudes socialistas, que pediu a Costa para que confie os jovens da JS. E, imediatamente antes do líder do PS, foi a vez de Sergei Stanichev, o búlgaro que dirige o Partido Socialista Europeu, fazer metade do seu discurso em português (com uma ligeira ressonância do sotaque do Papa João Paulo II).

Stanichev elogiou Costa, “um líder europeu, muito respeitado”. Criticando a direita e a política “apenas austeridade”, aquele dirigente pediu aos portugueses para que “não se deixem enganar”. “Nós contamos contigo, a Europa conta contigo, como próximo primeiro-ministro de Portugal”, afirmou Stanichev. Martin Schultz, o presidente do Parlamento europeu, socialista alemão, que chegou a ser um dos oradores previstos para este comício, cancelou a sua viagem a Portugal, por “motivos de doença”, segundo fonte oficial socialista. 

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