Viagens
"Urbanistan": dezassete anos de fotografia de viagem
O esloveno Matjaz Krivic é viajante desde os 16 anos de idade e fotógrafo desde os 17. "Trabalhava numa agência de viagens a vender sonhos a outras pessoas até que decidi que era a minha vez. Demiti-me, peguei na minha câmara e fui para a Índia durante um ano", disse ao P3 em entrevista via Skype. Nessa viagem, disparou cerca de cem rolos fotográficos e à chegada apercebeu-se de que tinha algo "bonito" em mãos; expôs as fotografias, vendeu umas dezenas e conseguiu assim amealhar dinheiro para a próxima viagem. Foi assim o início de carreira de Krivic, que desde então nunca mais parou de viajar e de fotografar. A série "Urbanistan" é uma colecção de fotografias de ruas de várias viagens e de várias eras. A maior parte pertence a projectos documentais de longo termo já publicados ou ainda por publicar, como é o caso das fotografias que realizou no Burkina Faso sobre trabalho infantil nas minas de ouro, intitulado "Digging the Future". Sempre se sentiu atraído por diferentes culturas, "por tradições, tensão social e devoção religiosa" e "Urbanistan" revela essa busca em Marrocos, Argélia, Mauritânia, Senegal, Mali, Burkina Faso, Namíbia, Irão, Iémen, Paquistão, Índia, Nepal, Tibete e Mongólia. "Volto muitas vezes aos mesmos locais. Gosto de voltar e quando o faço levo sempre fotografias às pessoas que fotografei. Prefiro voltar aos mesmos locais e observar como se desenvolvem, acho mais interessante do que andar constantemente a visitar novos países. Nunca fico por períodos de duas semanas. Sempre que vou, fico por bastante tempo. Conheço pessoas e se forem simpáticas fico com elas e ganho alguma familiaridade. Viajo bastante de carro e sou bastante independente, posso ficar onde me apetece o tempo que quiser, basta-me ter comida e água." Krivic gosta sobretudo de fazer o que lhe apetece, "sem agenda". É apaixonado especialmente pelo Mali, Burkina Faso e pelo Tibete. A primeira fotografia da galeria foi, no entanto, tirada no Iémen. "É uma espécie de península, como um grande rochedo com 200 metros de altura. O sol tinha acabado de pôr-se e estava dentro da minha tenda. Quando saí vi uma neblina que se aproximava muito rapidamente vinda das montanhas. Fui de imediato buscar a câmara. Tirei cinco fotos: três na horizontal e duas na vertical. Foram poucos minutos e acabou. Ficou escuro." Outras histórias saltam das imagens, como a historia de um pastor que caminhava com um par de sapatos na mão (imagem número 4 desta galeria). "Vi-o e perguntei-lhe: 'Por é que não usas os sapatos?'. Ele mostrou-mos e estavam abertos entre a parte de cima e a sola, era impossível usá-los. Pedi-lhe que se sentasse. Há coisas que trago sempre comigo e fio dental e uma agulha são exemplos disso. Então cosi-lhe os sapatos com fio dental, tirei-lhe uma fotografia e ele foi embora. O terreno ali pode ser bastante agreste e é fácil alguém magoar-se sem sapatos." Matjaz Krivic já publicou trabalhos seus na revista eslovena da "National Geografic", na "CNN", na "Lens Culture", "Burn Magazine", "Smithsonian", entre outras. Ana Maia