Lixo acumulado nas margens do rio Paiva vai ser recolhido por voluntários

Há seis anos que a associação SOS Rio Paiva protesta contra as descargas poluentes da ETAR no rio.

As margens do rio Paiva vão ser limpas este sábado por voluntários, dias depois de a associação SOS Rio Paiva ter denunciado descargas poluentes da ETAR de Vila Nova de Paiva. Contudo as autarquias locais negam a existência de problemas nas ETAR do concelho, enquanto que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) admite que a ETAR de Castro Daire não garante o tratamento devido.

A recolha de lixo acumulado nas margens daquele que é considerado “o rio mais limpo da Europa” está a ser organizada pela SOS Rio Paiva, uma associação de defesa do vale do Paiva, no âmbito da campanha “Vamos Limpar o Rio Paiva”.

A acção, para além da limpeza das margens, pretende chamar a atenção para a necessidade urgente de medidas de protecção desta zona. Se o lixo não for recolhido “será arrastado pelas correntes com as primeiras cheias, ficando espalhado ao longo do rio em locais de difícil acesso”, diz a associação em comunicado.

A limpeza vai ser realizada em diferentes locais habitualmente frequentados por turistas. Os voluntário concentrar-se-ão na Praia do Castelo, junto à foz do rio, pelas 9h, e na Igreja da Várzea, também no concelho de Castelo de Paiva, às 14h30. Nessa área, o lixo existente no fundo será recolhido por mergulhadores. Já no território de Arouca, o encontro está marcado para a Ponte de Espiunca (9h), “uma das zonas mais críticas”, e para Paradinha (17h). No município de Cinfães, a acção inicia-se no parque de lazer da Ponte da Bateira (15h). Finalmente, na freguesia de Lamosa, concelho de Sernancelhe, o encontro será no Centro Pedagógico da Rede Natura (9h30).

No passado domingo, a SOS Rio Paiva denunciou ao Serviço de Protecção da Natureza da GNR a ocorrência de descargas poluentes da ETAR de Vila Nova de Paiva directamente para o rio, transformando-o “num esgoto a céu aberto”. A associação tem um vídeo no youtube que mostra as águas poluídas por essas decargas, bem como fotografias no seu site oficial.

De acordo com a SOS Rio Paiva, “também em Castro Daire há problemas graves com as ETAR do concelho, com descargas frequentes de poluição Paiva e nos seus afluentes”.

Em resposta a esta denúncia, as câmaras de Vila Nova de Paiva e de Castro Daire negaram, na segunda-feira, a existência de quaisquer descargas poluentes provenientes das ETAR.

Ricardo Coelho, responsável da Câmara de Vila Nova de Paiva, garantiu à agência lusa que existe “uma infra-estrutura de drenagem de águas residuais” e que não há “qualquer problema operacional" na ETAR. Acrescentou ainda que o município tem “alvará de rejeição de águas residuais válido até Maio de 2017” e que a APA faz análises semanais à qualidade da água.

No que diz respeito à acusação da ETAR de Castro Daire, o presidente da câmara qualificou-a como “completamente falsa”. "A câmara não faz descargas no rio Paiva, até porque nós estamos a beber de lá a água”, comentou o autarca.

Também a APA reagiu na segunda-feira às denúncias da SOS Rio Paiva, garantindo à Lusa que “até à data, todas as análises microbiológicas (E. coli e Enterococos) realizadas nestas águas balneares não revelaram qualquer contaminação que possa por em risco a prática balnear”.


 A mesma entidade explicou que supervisiona há vários anos a qualidade da água, através de uma rede composta por várias estações de amostragem e acrescentou que as últimas análises obtidas, no dia 11 deste mês, apresentaram valores muito baixos, “não ultrapassando qualquer valor limite estabelecido nas respectivas normas de qualidade legais”.

A APA admitiu que no ano passado a ETAR de Vila Nova de Paiva registou problemas de funcionamento que afectavam a qualidade da água. E ao contrário do que afirmou a autarquia, reconheceu que a ETAR do concelho de Castro Daire, construída há mais de 30 anos, apresenta “sinais evidentes de degradação com tecnologia obsoleta, não garantindo, de todo, a eficiência de tratamento pretendida”. Por fim, revelou que a câmara já formalizou uma candidatura para a execução de uma ETAR em Castro Daire adaptada a mais de 8000 habitantes.

As denúncias de problemas com as ETAR do concelho não são de agora. Em 2011, dois anos depois das primeiras queixas, o Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (Sepna) da GNR fiscalizou aquele equipamento e confirmou as descargas poluentes e a ausência de licença para a utilização de recursos hídricos. 

No ano seguinte, a APA garantiu à SOS Rio Paiva terem sido realizadas análises aos efluentes e que os resultados cumpriam os valores de emissão legalmente previstos. No entanto, nesse mesmo ano, a SOS Rio Paiva assegurava que o problema se mantinha: o troço do rio estava “igual, com cheiros nauseabundos, e todo o leito do rio transformado num pântano de esgotos sem tratamento”.

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