Assinado acordo no Sudão do Sul, mas discórdia persiste

A ameaça de sanções forçou a mão do Presidente sul-sudanês, que prefere falar nas “reservas” que mantém em relação ao entendimento alcançado.

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O Presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, antes da assinatura do acordo de paz Samir Bol / AFP

O Presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, assinou esta quarta-feira um acordo de paz que visa abrir caminho à resolução do conflito que assola o país há quase dois anos. Apesar de ser visto como um importante passo para pôr fim à guerra civil, não é certo que a paz regresse de imediato ao mais recente país do mundo.

A assinatura de Kiir era aguardada em Juba (capital sul-sudanesa) pelos líderes regionais que compõem o IGAD – o grupo de seis países que têm mediado as conversações. Os rebeldes já tinham dado o seu apoio ao acordo, cumprindo o prazo de 17 de Agosto, faltando apenas o compromisso de Salva Kiir. O chefe de Estado sul-sudanês pediu uma extensão do prazo para o seu governo estudar os trâmites do documento.

Esta semana, um porta-voz do governo revelou que Kiir estava disposto a assinar o acordo, apesar de manifestar algumas “reservas” em relação a certas disposições. O Presidente não deixou de o lembrar nas declarações que fez, momentos antes de o acordo ter sido fechado. “A paz que assinámos hoje inclui coisas que devemos rejeitar (…). Ignorar estas reservas não será do interesse de uma paz justa e durável”, disse Kiir, citado pela AFP.

Sobre o governo de Juba pendia a ameaça da aplicação de sanções pelo Conselho de Segurança da ONU. O Presidente fez questão de denunciar as “mensagens de intimidação”, que terão acelerado a assinatura do documento. Entre os aspectos que despertam mais reservas estão a desmilitarização da capital e o forte peso da oposição rebelde no quadro de partilha do poder no estado petrolífero do Alto Nilo.

Do campo do Presidente, a estratégia deverá ser a de renegociar os termos do acordo, que, disse Kiir, “não é a Bíblia nem o Corão”. Oposição e mediadores já revelaram, porém, que o memorando não pode ser revisto.

Com as assinaturas apenas no papel, é questionável se a paz poderá mesmo regressar ao país que alcançou a independência em 2011, depois de décadas de guerra com o Sudão. Foi em Dezembro de 2013 que foram abertas as hostilidades entre as forças leais a Salva Kiir e o círculo próximo de Riek Machar, ex-vice-Presidente do país e antigo oficial do Exército de Libertação Popular do Sudão.

Aquilo que começou como uma disputa pelo poder depressa se alastrou a quase todo o país, assumindo contornos étnicos – Kiir é da etnia dinka e Machar é nuer. O conflito tem sido altamente violento, com abusos graves cometidos por ambos os lados, calcula-se que terão morrido dezenas de milhares de pessoas e que haja mais de 2,2 milhões de sul-sudaneses deslocados.
 

  



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