Queimado por dentro?

“Pessoa que provoca intencionalmente um incêndio”, explica, sem cerimónia, o dicionário quando chegamos à palavra “incendiário”. Não fala em idades, mas não se espera que quem “põe fogo” tenha 12, 13 ou mesmo 16 anos, como nos casos que foram noticiados nos últimos dias.

“GNR identificou 68 menores suspeitos de fogos florestais desde 2013”, foi título no PÚBLICO de quarta-feira, num texto onde se podia ler que, “desde 2013, a GNR, a polícia mais presente nas áreas rurais, identificou 68 menores de 18 anos suspeitos de atearem incêndios florestais”.

Num outro artigo, dava-se conta de que um adolescente com 13 anos já era “suspeito de ter ateado pelo menos sete incêndios que no Verão passado consumiram centenas de hectares na Covilhã”. Divulgava-se ainda que, também no Verão de 2014, “a PJ identificou pelo menos quatro menores alegadamente autores de incêndios: três de 16 anos, em São João da Madeira, e um de apenas 12 anos em Espinho”.

Problemas de “saúde mental”, “limitações cognitivas” e “famílias disfuncionais” são as explicações dos especialistas, para quem “o perfil e as motivações não divergem entre adultos e menores”.

Queimados por dentro (como eles?), ficamos sem saber o que pensar ou sentir.

“Incendiário”, enquanto adjectivo e em sentido figurado, pode significar “excitante”, “que causa entusiasmo”. Mas seria criminoso falar nisso enquanto a floresta arde.

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