Autarca de Castelo Branco lamentou destruição de edifício quinhentista

Edifício quinhentista associado à comunidade judaica da época foi demolido, mas a câmara diz que as ombreiras das portas foram salvaguardadas

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O presidente da Câmara de Castelo Branco, Luís Correia, reconheceu esta sexta-feira que foi "um erro" a demolição de um edifício com portados quinhentistas, mas criticou o facto de os vereadores do PSD terem preferido assistir à destruição do imóvel em vez de avisar o município.

“É lamentável que os senhores [vereadores do PSD] tenham estado presentes num erro e não tenham alertado o município ou o presidente. Preferiram estar lá do que avisar esta câmara e os técnicos que estavam no local”, afirmou o presidente da Câmara de Castelo Branco, Luís Correia.


A demolição de um edifício com portados quinhentistas (ombreiras das portas da rua em pedra trabalhada), por parte da Câmara de Castelo Branco, tema que já tinha sido abordado na reuniãopública do executivo municipal de 17 de Julho, voltou a dominar a sessão desta sexta-feira. 

O assunto veio novamente à discussão pela voz do vereador do PS com o pelouro da cultura, Fernando Raposo, que demonstrou o seu desagrado pela forma como a oposição (PSD) se referiu à demolição do edifício, classificando a situação como um “crime cultural”.

O vereador do PS recuou então a 1989, para recordar que, à data, o município de Castelo Branco era liderado pelo PSD e que foi este que aprovou um plano de pormenor para a zona que previa a demolição do edifício em causa, plano esse publicado em Diário da República, no ano de 1992.

“Isto é uma decisão do executivo do PSD. Foi o PSD que aprovou o plano de pormenor que previa a demolição da casa. O PS [executivo] teve o cuidado de acautelar o portado [quinhentista], de o recolher em local adequado e será colocado num espaço próprio. Não vejo melhor forma de preservar o nosso património”, afirmou o vereador do PS. Fernando Raposo adiantou ainda que “na política todos têm de ser sérios, honestos e verdadeiros”.

Os vereadores do PSD, Paulo Moradias e João Paulo Benquerença, reagiram às afirmações do socialista e lamentaram a “forma grosseira” como Fernando Raposo se dirigiu à oposição.
“A consciência cultural das décadas de 80 e de 90 era diferente. Relembro que os erros do passado do PSD não nos obrigam a ficar calados em relação aos actuais”, disse João Paulo Benquerença.

Luís Correia considerou a atitude dos social-democratas como uma “falta de respeito profundo pela instituição Câmara de Castelo Branco” e adiantou que “tanto é ladrão aquele que rouba como o que fica à porta”.

O vereador do PSD Paulo Moradias recordou que as “coisas evoluem” e não é por haver um plano de pormenor de 1992 que a demolição do imóvel quinhentista tinha que ser feita. “Os documentos são dinâmicos e as pessoas também. Esse argumento [plano de pormenor] não tem a mínima validade”, disse. Em resposta, Luís Correia disse também esperar que a atitude dos vereadores social-democratas “evolua no futuro”.

Em Castelo Branco existem ainda perto de três centenas de portados quinhentistas em edifícios associados à presença de uma grande comunidade judaica na cidade no século XVI.


 

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