Um ano de exposições, congressos e edições

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A Câmara de Torres Vedras destaca-se nas comemorações com exposições e novidades bibliográficas DR

Os 600 anos da conquista de Ceuta estão a ser assinalados um pouco por todo o país com reconstituições históricas, exposições, congressos e novas publicações, sobre este momento histórico e os seus protagonistas.

O pontapé-de-partida foi dado pela Câmara Municipal de Torres Vedras, que no ano passado assinalou o 6º. centenário do Conselho Régio, aí realizado nos dias 23 e 24 de Julho de 1414, com uma reconstituição histórica do evento em que D. João I informou, e debateu com os pares do reino, a empresa que trazia em mente já desde 1409.

Já em Maio deste ano, a mesma autarquia inaugurou, no Museu Municipal Leonel Trindade, a exposição histórico-documental Torres Vedras no Caminho de Ceuta. 600 anos. Do Conselho Régio... à Conquista de Ceuta (1414-1415), que vai ficar patente até 10 de Outubro. Simultâneamente, editou uma publicação com uma série de ensaios sobre o tema, com coordenação de Carlos Guardado da Silva, historiador e responsável pelo Arquivo Municipal.

No capítulo das edições, 2015 viu também surgir novos olhares sobre a tomada de Ceuta. 1415 A Conquista de Ceuta, de João Gouveia Monteiro e António Martins da Costa (edição Manuscrito), parte directamente da Crónica da Tomada de Ceuta, assumindo a perspectiva do seu autor, como voz off, em diálogo com João Gomes da Silva, alferes-mor do rei, e com o infante D. Henrique; e avança depois para a descrição do que foi a manutenção da cidade após a conquista.

Ceuta 1415 – Seiscentos Anos Depois, de Luís Miguel Duarte (Livros Horizonte), professor de História Medieval na Universidade do Porto (UP), propõe uma leitura-interpretação-desconstrução da Crónica de Zurara, com o assumido programa de “descentralizar o olhar de Lisboa e de Portugal e procurar ver este episódio, em primeiro lugar, a partir de dentro da cidade muçulmana”.

Paulo Drumond Braga, investigador do Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade da UP, escreveu Uma Lança em África. História da Conquista de Ceuta (Esfera dos Livros), na qual historia, também, o processo que vai das motivações da conquista até à perda da cidade após a Restauração.

Edição de referência na nova bibliografia sobre Ceuta, e a história que se seguiu, é Os Descobrimentos e as Origens da Convergência Global, uma volumosa edição (em português e inglês) da Associação para a Divulgação da Cultura Portuguesa e da Câmara Municipal do Porto. Amândio Barros é o coordenador desta edição que, a partir do espólio e do arquivo da Casa do Infante, regista o papel da cidade do Porto – e o papel dos vários portos marítimos do país (e da Galiza) – nas Descobertas.

Estes e outros temas vão estar, naturalmente, no centro das intervenções e discussões que vão ocorrer, até final do ano, em três congressos internacionais. O primeiro realiza-se nos três primeiros dias de Outubro, na própria cidade de Ceuta. Seguem-se, em Lisboa, de 10 a 12 de Novembro, o simpósio promovido pela Academia da Marinha e, a 3 e 4 de Dezembro, também na capital, as VIII Jornadas Luso-Espanholas destinadas a olhar "de ambos os lados do Estreito: a propósito de Ceuta (sécs. VIII-XV)".

Fora do calendário das iniciativas académicas, a Câmara do Porto inaugura hoje a exposição A Tomada de Ceuta por Gomes Eanes de Zurara: uma Crónica Ilustrada, com olhares de onze artistas nacionais e estrangeiros sobre esse documento histórico a que todos vão beber.

Neste conjunto de iniciativa ressalta, lamenta o historiador João Paulo Oliveira e Costa, professor na Universidade Nova de Lisboa, “a ausência do Estado, que deveria ter evocado esta data, mas que se demitiu dessa missão”. 

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