Cascais ganha cinema de bairro em salas fechadas pela crise

O Cinema da Villa reabre as salas fechadas há mais de dois anos, quando faltou dinheiro até para pagar a electricidade. Nova programação alia o cinema comercial ao circuito alternativo, com especial atenção à comunidade local.

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Cinema fica no Cascais Villa, situado a cerca de 50 metros da estação ferroviária de Cascais Patrícia Martins

Desligados há mais de dois anos, os ecrãs de cinema do centro comercial Cascais Villa voltam hoje a mostrar um filme. A primeira sessão é às 14h30, com o filme Missão Impossível: Nação Secreta. O espaço reabre agora com novo nome, O Cinema da Villa, pela mão de uma nova exibidora, a First Pick.

A empresa alugou as salas fechadas desde Fevereiro de 2013, após ter sido cortada a electricidade por falta de pagamento por parte da Socorama Castello-Lopes – cujo administrador era João Paulo Abreu, agora gerente da First Pick. A Socorama, que era a segunda maior exibidora de cinema em Portugal, pediu a insolvência naquele ano, alegando dívidas acumuladas no valor de 12 milhões de euros. Dezenas de salas foram encerradas por todo o país.

Com a aposta no cinema do Cascais Villa, a First Pick quer voltar a dinamizar a oferta cultural do concelho. “Era impensável não haver cinema no centro de Cascais”, observa Rita Rio de Sousa, responsável pela direcção e programação do Cinema da Villa. Segundo ela, o espaço assume-se como um “cinema de bairro”, uma "paragem obrigatória nos planos em família", num concelho onde nos últimos dois anos funcionaram apenas dois cinemas, afastados do centro da vila: um no Centro Comercial de Carcavelos e outro no CascaiShopping, em Alcabideche.

Além dos blockbusters que enchem salas por todo o país, O Cinema da Villa oferece cinema independente e alternativo. "O objectivo do projecto é aliar o cinema comercial, que é o que nos paga as contas, a uma programação alternativa”, incluindo ciclos de cinema, retrospectivas, documentários ou filmes de animação, explica Rita Rio de Sousa. “Achamos que os dois tipos de cinema podem conviver de uma forma saudável”, sublinha.

Para já vão funcionar três das cinco salas e as outras duas deverão abrir no final do ano. Sete dias por semana, as sessões começam às 14h30 e a última será às 22h, até porque o principal público-alvo não costuma deitar-se tarde. “Queremos trazer os seniores de volta ao cinema”, diz Rita Rio de Sousa, revelando que foram já feitos acordos com residências para idosos e até com a CP (uma vez que o Cascais Villa fica a cerca de 50 metros da estação ferroviária), para a oferta de bilhetes ou descontos.

A responsável pela programação explica que O Cinema da Villa pretende "trabalhar de perto com a comunidade" - além de lares de idosos, também com escolas e associações - e estabelecer parcerias locais. A First Pick pretende também encontrar formas de inserir a programação d'O Cinema da Villa em eventos culturais organizados pelo Centro Cultural de Cascais ou pela Câmara Municipal, com o apoio da Fundação D. Luís I. Rita Rio de Sousa revela ainda que a empresa está a tentar levar até Cascais alguns dos mais importantes festivais de cinema do país.

Além das salas de exibição, o espaço d' O Cinema da Villa conta com um “café amistoso”, uma “zona de conforto em ponto pequeno”, com Wi-Fi gratuito, onde será possível estudar ou trabalhar. E tem também uma loja com DVD disponíveis para compra - o catálogo, que inclui sobretudo filmes da distribuidora Films4You, com quem a First Pick tem uma parceria, está disponível online.

Em períodos festivos ou ocasiões especiais, como o Natal ou o Dia das Bruxas, O Cinema da Villa terá sessões ao ar livre ou actividades de cariz social e cultural, como debates e conferências, e também está prevista a realização de oficinas após a exibição dos filmes (por exemplo sobre cinema de animação), direccionadas às famílias.

Os bilhetes de cinema, que vão dos 5 euros aos 6,5 euros, dão direito a três horas de estacionamento gratuito no parque subterrâneo do Cascais Villa.

Sessões especiais
A programação alternativa d’O Cinema da Villa pode acontecer uma vez por dia ou uma vez por semana e abre espaço para produções de outras línguas, de outras culturas, e de realizadores pouco conhecidos.

A primeira sessão do circuito independente, em Setembro, terá em cartaz o filme que valeu a Jacques Tati a entrada no Festival de Cannes em 1953 e a nomeação para os Óscares três anos mais tarde: As Férias do Sr. Hulot, uma comédia francesa que estreou há mais de 60 anos em Portugal. Esta sessão única da versão restaurada do filme escrito, dirigido e protagonizado por Tati, é possível graças à parceria da First Pick com a distribuidora Leopardo Filmes.

Segundo Rita Rio de Sousa, todos os últimos domingos do mês, às 18h, a partir de Setembro, serão também exibidos documentários do catálogo da Apordoc. Um dos títulos já na lista é Dior e eu, que desvenda o mundo da casa Christian Dior, com acesso aos bastidores da criação da primeira colecção de alta costura de Raf Simons, o novo director artístico da famosa marca.

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