Um troféu e um elefante na sala

O Parlamento alemão aprovou o terceiro resgate. Mas ficou o aviso: à terceira terá de ser de vez.

Todos os países cujos parlamentos tinham de aprovar o resgate grego já o fizeram, a tempo de o país poder pagar a dívida de 3,2 mil milhões ao BCE. Até países como a Espanha, em que o Governo tem autonomia para aprovar o resgate sem passar pelo Parlamento, levaram o tema a votação, numa tentativa de tirar dividendos políticos da fragilidade alheia. Luis de Guindos apresentou o terceiro resgate como uma espécie de troféu de caça, como exemplo para mostrar aos partidos como o Podemos que os “cantos de sereia” do populismo “deixam expectativas por cumprir, provocam frustrações e descontentamento social”.

No caso da Alemanha, o resgate não foi apresentado como um troféu, porque o assunto era incómodo para todos. Foi uma espécie de um grande elefante no Bundestag. Coube a Wolfgang Schäuble, que há poucas semanas defendia a saída temporária dos gregos da zona euro, o discurso para convencer os deputados a aprovar o resgate para manter a Grécia no euro. Schäuble defendeu que o objectivo “é que a Grécia consiga pôr-se novamente de pé” e para tal já se comprometeu com reformas e privatizações. E não deixa de ser irónico que, no mesmo dia em que os alemães aprovam o resgate, o Governo grego dê luz verde à primeira privatização da era Syriza, ganha precisamente por uma empresa alemã que vai passar a operar 14 aeroportos regionais da Grécia.

Tem sido a força da economia alemã que tem ajudado a que os níveis de popularidade de Merkel se mantenham elevados, numa altura em que a chanceler vai completar uma década no poder, desde que em 2005 derrotou Schroeder. E tem sido essa popularidade que lhe tem permitido conter os eurocépticos no Bundestag. No entanto, convém não esquecer que em 2010, aquando do primeiro resgate grego, apenas quatro deputados do seu partido votaram contra. Hoje foram 63.

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