O condutor que no domingo atropelou três adolescentes na estrada que liga Alvega a Atouguia, na zona de Ourém, entregou-se esta segunda-feira às autoridades. Tinha fugido do local do acidente.

"O suspeito entregou-se hoje às 8h30 no posto de Ourém da GNR, tem 50 anos e mora próximo do local do acidente", disse à agência Lusa o relações públicas do Comando Territorial de Santarém da GNR, major Pinto Reis.

Segundo o major Pinto Reis, a GNR está a desenvolver diligências, que incluem a inspecção ao veículo, um Seat Ibiza de cor preta, que já está na posse da Guarda, e a inquirição de testemunhas oculares para aferir da veracidade da confissão do condutor, assim como para perceber a razão que o levou a fugir do local do acidente.

Pelas 17h00 de domingo, o indivíduo atropelou os três jovens, entre os 12 e os 16 anos, que estavam a andar de bicicleta a cerca de 500 metros das suas residências. Não terá prestado qualquer auxílio às vítimas e fugiu do local, tendo os meios de socorro sido chamados por pessoas que iam a passar no local.

Um dos jovens feridos foi transportado de helicóptero para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde se encontra internado, e os outros dois deram entrada no Hospital Pediátrico de Coimbra.

Segundo o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, que integra o Hospital Pediátrico de Coimbra, uma das vítimas, de 16 anos, encontra-se "na Unidade de Cuidados Intensivos, com traumatismo craniano e com prognóstico reservado". Também há suspeitas de que tenha sofrido uma perfuração pulmonar. "A outra criança, de 12 anos, encontra-se internada no Serviço de Ortopedia, tem uma fractura exposta do fémur mas com bom prognóstico", acrescentou a mesma unidade de saúde.

No Hospital de Santa Maria, em Lisboa, a vítima que ali se encontra internada está "estável", adiantou fonte hospitalar, sem nada mais adiantar. O PÚBLICO apurou que se encontra em coma induzido.

O ex-bastonário dos advogados Rogério Alves explica que o condutor do automóvel incorre não em um mas em dois crimes distintos: além de o atropelamento poder constituir uma ofensa à integridade física por negligência, a fuga que se lhe seguiu configura omissão de auxílio. Segundo o Código Penal, quem se recusar a prestar auxílio às vítimas de um acidente ou desastre grave que possa pôr em risco a vida das pessoas  sujeita-se a pena de prisão até um ano. Se o perigo tiver sido provocado pela mesma pessoa que nega ajuda, a moldura penal sobe para dois anos.

Se o caso for a julgamento, os juízes poderão vir a considerar como atenuante o facto de o condutor se ter entregado às autoridades, embora muitas horas depois. A omissão de auxílio só não é punível se quem tem o dever de ajudar as vítimas se encontrar impossibilitado de o fazer - por estar ferido, por exemplo. 

"É uma situação dramática não só para as famílias dos jovens como para o resto da comunidade", observa o presidente da assembleia de freguesia de Atouguia, Manuel Tavares Lopes. O autarca mora a 500 metros do sítio onde se deu o acidente e não se lembra de o local ter sido palco de algum tipo de acidente no passado, apesar de ali existir uma curva numa descida que desemboca numa ponte sobre um ribeiro. "Fugir do local sem socorrer os jovens é um acto ignóbil", indigna-se Tavares Lopes.

Os três jovens ciclistas gostavam de andar depressa já tinham sido avisados mais do que uma vez para terem cuidado quando circulassem na estrada. "Levaram uma pancada enorme. Um deles foi parar à valeta", descreve uma vizinha. 

Segundo as mais recentes estatísticas da Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária, é relativamente baixa a sinistralidade dos ciclistas mais novos. De acordo com dados disponíveis até 2013, são os acidentes de automóvel que mais vitimam as crianças até aos 14 anos, seguindo-se os atropelamentos na qualidade de peões.O número de condutores de bicicleta representa apenas 6% das vítimas mortais, 11% dos feridos graves e 7% dos feridos ligeiros.