Presidentes das cotadas do Reino Unido ganham mais 20% do que há quatro anos

Em média, salário dos executivos é 183 vezes superior ao dos trabalhadores por conta de outrem

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O português António Horta Osório é o sexto gestor mais bem pago entre as maiores empresas cotadas do Reino Unido Leon Neal/AFP

O salário médio anual dos presidentes executivos das empresas do FTSE 100, o principal índice da Bolsa de Londres, atingiu os 4,9 milhões de libras em 2014 (mais de 6,9 milhões de euros), um ligeiro aumento 1% face ao ano anterior, mas de 20% em comparação com 2010. Desde 2013 que as cotadas britânicas são obrigadas a divulgar de forma detalhada o vencimento global dos executivos, medida que também está em vigor em Portugal, e de acordo com um estudo do think tank High Pay Center, o fosso salarial entre estes gestores e a média dos trabalhadores no Reino Unido agravou-se nos últimos quatro anos.

Se em 2010, os CEO (a sigla para chief executive officer) auferiam 160 vezes mais do que a população empregada a tempo inteiro naquele país, em 2013 o rácio aumentou para 182. Já o ano passado subiu ligeiramente para 183. O High Pay Center calcula ainda que a retribuição dos líderes das cotadas é agora 148 vezes superior à dos trabalhadores da sua empresa (indicador nos 146 em 2013).

Citando números do Banco de Inglaterra, o organismo que faz campanha por uma maior distribuição da riqueza, refere que, em termos reais, a remuneração dos CEO passou de 4,7 milhões de libras em 2010 para um pouco acima dos 5 milhões em 2013. Apesar de, entre 2013 e 2014, o valor anual dos ordenados ter crescido apenas 1%, para o think tank britânico “mantém-se extraordinariamente elevado numa comparação histórica”. As novas regras que obrigam à divulgação detalhada dos salários, tema sempre polémico em todo o mundo, “parecem, virtualmente, não ter conseguido travar os ordenados excessivos dos gestores”, refere.

Na lista dos dez mais bem pagos está o português António Horta Osório, CEO do Lloyds Banking Group, a ganhar mais de 11,5 milhões de libras (16,2 milhões de euros) e a ocupar a sexta posição. Tal como em 2013, a tabela é liderada por Sir Martin Sorrell, presidente executivo do WPP, grupo de publicidade e relações públicas, com um vencimento anual (que inclui bónus e salário base) de 42,9 milhões de libras, 44% mais do que no ano anterior. A par de Peter Long (Tui Travel) foi o único gestor a manter-se na lista dos dez mais bem pagos do Reino Unido. Long passou da nona posição para a quarta, auferindo agora mais de 13,3 milhões de libras. “Pacotes salariais desta dimensão ultrapassam o que é necessário para premiar e inspirar executivos de topo”, defende Deborah Hargreaves, directora do High Pay Center.

Em Portugal, os vencimentos dos presidentes executivos apresentam níveis bem mais reduzidos. De acordo com contas recentes do Diário Económico, em média, os líderes do PSI 20 auferiram 666 mil euros em 2014 (em termos brutos), 30 vezes mais do que a média dos custos com pessoal. Em 2013, os cálculos do PÚBLICO indicavam que os gestores do principal índice bolsista ganhavam em média 33,5 vezes mais do que os seus trabalhadores.

Na semana passada, o regulador norte-americano aprovou a regra que obriga as cotadas a revelarem a diferença entre o salário do CEO e o ordenado médio dos restantes colaboradores. Este rácio era já obrigatório pela Lei Dodd-Frank aprovada em 2010 mas a Securities and Exchange Commission (SEC) só agora o aprovou.

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