Adolescentes em férias

Os adolescentes aproveitam bem as férias, embora os pais nem sempre concordem.

Compreendo a divergência de opiniões. Pais e avós acham que os mais novos perdem a melhor parte do dia, porque se deitam tarde e dormem durante toda a manhã, nas horas em que a praia e o campo “são mais saudáveis”. Em muitas famílias, os horários continuam a ser um problema, como se já não bastassem as discussões sobre a hora de deitar, ocasiões para permanentes disputas durante todo o ano. Agora é a hora das refeições e o horário nocturno de regresso a casa que constituem um problema: os jovens querem usufruir a noite até de madrugada, preferem uma refeição rápida e mostram enfado perante a hipótese de jantares prolongados ou serões de conversas com adultos, em noites calmas passadas em casa.

Nalgumas famílias com adolescentes que conheço, as férias não são fáceis. Os pais oscilam entre a proibição sem grande critério e a permissividade total. No primeiro caso, são frequentes as respostas agressivas dos jovens e os castigos dos progenitores, que impõem a lei do mais forte sem grandes contemplações, tendo como resposta mais respostas mal-educadas ou simples encolher de ombros, com a inevitável retaliação parental. No segundo caso, os adolescentes quase deixam de ser vistos: os pais partem para a praia deixando-os a dormir e apenas assistem a um passar em casa para o banho do fim do dia, antes que nova combinação com os amigos os retire depressa. À noite, os pais ficam sozinhos, ou também se apressam a fazer combinações com amigos, para recomeçar o conflito pela madrugada, sobretudo quando as mães não conseguem dormir: nessa altura, a discussão recomeça, porque os irmãos mais novos estão a dormir e podem acordar, ou porque os avós estão presentes e precisam de descansar. Nestas famílias, fico sempre com a ideia de que se perdem oportunidades de convívio entre pais e filhos, se esquece a noite longa propícia a desabafos mútuos, se ignoram os momentos de paz e tranquilidade que as férias podem proporcionar. Em Setembro, estas famílias lamentam o tempo perdido e o regresso ao trabalho é sentido como um bálsamo para os pais.

Acredito que, na maioria dos casos, nada se passa assim. Conheço famílias que acolhem os amigos dos filhos adolescentes, porque os convidam a passar uns dias lá em casa. Tímidos e calados de início, esses adolescentes integram-se aos poucos nas rotinas das novas famílias e podem constituir até um importante tampão para conflitos inevitáveis em famílias nessa fase do ciclo de vida; de uma forma geral, a sua presença é benéfica porque alivia as tensões e acaba por ser divertida para todos. Noutras famílias, tudo é planeado com alguma antecedência: os adolescentes combinam férias em casa de amigos ou em pequenas deslocações pelo país (que, agora, quase sempre incluem uma ida a um festival de música), para deixarem um tempo só em família, nessa altura desfrutado com gosto, porque não foi imposto de forma autoritária e unilateral.

As conversas com adolescentes que observo e em que participo a espaços são, para mim, momentos inolvidáveis. Adoro os seus comentários, a maneira alegre e descontraída com que encaram a vida, até o aparente desinteresse que mostram. E vejo como, de repente, há um gesto de ternura para com a mãe e a avó, ou a retirada para um canto para conversar com o pai. Com os adolescentes, é essencial estar atento e disponível, sem nunca abdicarmos da nossa condição de adultos.

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