Uma chinelada de confiança

Pessoas verdadeiras usadas como rosto de histórias não autorizadas e sem dizer a verdade. O PS de António Costa (é o que dá um líder meter seis dias de férias)* anda às voltas com a confiança.

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Depois do grupo de lesados do BES, esteve à vista a criação do Grupo de Lesados dos Cartazes do PS. Um conjunto de cabeças de cartaz anónimas que, contra sua vontade, espalharam mentiras e números errados pelas ruas. Funcionários da Junta de Freguesia de Arroios que foram promovidos a “desempregados” por culpa do Governo, em cartazes gigantes. 
Na sua fúria (e a fazerem beicinho de desempregados desde 2012 como nos cartazes), o grupo de enganados quase invadiu a sede do PS no largo do Rato, exigindo indemnizações e a reposição do seu “capital de confiança”. Mas eram muito poucos e António Costa pediu desculpas imensas e demitiu os estrategas da campanha, quase contribuindo para aumentar a taxa de desemprego. Por sorte, os autores destes cartazes eram uns simples curiosos ligados ao PS que nada recebiam em troca das ideias tolas. Mas deram um forte contributo à ciência política em Portugal, ao mostrarem em campanha a dialéctica actual do PS: muito amadorismo e pouco dinheiro.
Antes disso, o PS tivera cartazes criados na escola de marketing das igrejas evangélicas (uma senhora a mostrar um nascer-do-sol, rasgando um cenário de tempestade dentro do próprio cartaz). Depois disso, a coligação PSD-CDS também admitiu a verdade sobre os seus cartazes. Todos os caramelos risonhos que lá se estampam são cidadãos estrangeiros que venderam a fronha a bancos internacionais de imagens publicitárias. Podem ser da coligação Portugal à Frente cá, e duma botija de laxante na Austrália. Por exemplo, o senhor que na foto anuncia mais investimento económico e mais emprego em Portugal é o mesmo que vende ao mundo hispânico as virtudes das próteses dentárias Corega. 
Com isto se prova que a situação do emprego em Portugal continua a ser bastante postiça. Perdeu os dentes, algures. E, para aborrecimento de Passos Coelho, mesmo atacando a credibilidade da economia, a banca de imagens já é privada. Não a pode vender por três cêntimos aos chineses como tudo o resto nesta vida. 
Depois de uma semana intensa de pirosices e de fracassos na mensagem, António Costa deu uma entrevista à Visão**. Pediu novas desculpas pela “sucessão de equívocos” de “um caso lamentável”. E reforçou a estratégia de um PS centrado no líder, no slogan “tempo de confiança” e no “contacto directo”. Mas não só, não só. Depois disso, no Rato, em reunião sigilosa de emergência com o novo responsável da campanha, Duarte Cordeiro, admitiram-se outras abordagens. Será verdade o que vamos ler? Até parece que a verdade tem alguma coisa a ver com este assunto.
— Dr. António Costa, boa entrevista.
— Tentaram apanhar-me com os cartazes e com o Sócrates.
— Dizer que ao PSD, com o caso Sócrates, “foge-lhe sempre o pezinho para a chinela” foi inteligente. Mas a melhor foi aquela: “O que eu mais ouço na rua é ‘corra com eles’”! Parabéns.
— Obrigado. Bom, e esse famoso contacto directo, como é?
— A entrevista foi providencial. Podemos avançar para além da mensagem de “confiança”, abalada com os cartazes dos falsos desempregados.
— E então?
— Bem, vamos colar os seus dois conceitos do “corra com eles” com o “pezinho para a chinela”. Na verdade, fazem sentido juntos.
— Mas não queria uma campanha sóbria?
— Imagine um cartaz com a sua cara confiante e a legenda: “Vamos Correr Com Eles”.
— Hum... não é muito forte?
— É contacto directo. É a linguagem que cala fundo nos portugueses depois de anos de crise e de promessas falsas. Daqui, podemos partir para uma série de mensagens cada vez mais directas. “Vamos Dar-lhes Uma Ensaboadela”. 
— Não sei, hesito.
— E que tal “Ó Passos, Põe-te a Pau Comigo”. Ou “Portas, Vai Dar Uma Volta ao Bilhar Grande”.
— Que tal centrarmo-nos antes na austeridade europeia? “Eurogrupo, Vai Mas é Dar Banho ao Cão”.
— Ah, vejo que o dr. Costa apanhou o espírito! “Schäuble, levavas era um Par de Patins.”
— Ui! 
— É giro fazer cartazes, não é? O António Costa podia fazer um manguito: “Queres Mais Austeridade? Toma!” 
— E ideias para o Cavaco Silva? Está colado ao Governo.
— “Aníbal, Eu Já te Topei”.
— Isso é verdade, mas...
— “Olé, Olé, e Quem Não Salta é Cavaquista”. Não, não é suficientemente sóbrio. Por falar nisso, é verdade... Chegou ao gabinete de campanha uma carta do eng. José Sócrates, de Évora.
— Já o visitei uma vez, uma vez. 
— Posso ler? “Caros senhores. É altura de corrigirem a ofensa do figurante que supostamente perdeu o emprego há cinco anos, no meu tempo. Que tal um cartaz com a minha foto de preso político e a legenda: “E Só Eu é que Estou no Xilindró?” 
— (Silêncio)
— Enfim, é linguagem próxima do povo. É contacto directo, dr. Costa.
— Já o visitei uma vez, uma vez. Chega de contacto directo. Essa chinela eu não calço.

*por falar nisso, esta coluna regressa a 6 de Setembro.
**a 14 de Agosto, entrevista de Filipe Luís.

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