O capitalista que gosta de jornais

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São duas histórias cruzadas, a da The Economist, a mais prestigiada e internacional das revistas britânicas, e a de John Elkann (na foto ao lado), chefe da família Agnelli. Através da sua holding Exor, os Agnelli tornaram-se na quarta-feira no maior accionista do The Economist Group, com 43,4% do capital — um investimento de 405 milhões de euros. Neste caso, pode dizer-se que foi a revista a escolher o seu maior accionista. São velhos conhecidos. Elkann, líder da Exor e patrão da Fiat, era já accionista do grupo (4,7%) e administrador não executivo. A mais prestigiada e internacional revista britânica não perderá a independência. Os direitos de voto de Elkann não poderão ultrapassar os 20% e nenhum accionista poderá deter mais de 50% do capital.

A operação ocorre depois do grupo Pearson ter vendido o The Financial Times aos japoneses da Nikkei, o maior grupo asiático de media, para se centrar na edição. O FT detinha 50% da Economist mas esta ficou fora do negócio. Com 172 anos de história, a revista sempre gozou de total autonomia. Metade do capital é controlado pelos empregados, antigos e actuais, e por trustees independentes, zeladores da independência editorial. São os jornalistas quem elege o director. E terão de aprovar a operação com uma maioria de 75%.

O aumento da quota da Exor foi aprovado por unanimidade pelo directório do grupo, pela directora, Zanni Minton Beddoes, e pelos seus antecessores. Os ex-directores frisam numa carta: “Elkann reforçará a identidade do Grupo Economist.” Anota a directora: “Elkann é uma referência”. Para este, “The Economist tem um enorme potencial de crescimento na dura batalha entre a inteligência, que impulsiona o progresso, e a ignorância vil e temerosa que lhe faz obstáculo.” Não acontece todos os dias na selva dos media.

John Philip Jacob Elkann, Jaki para os amigos, 39 anos, é desde 2010 o novo rosto da dinastia Agnelli — com um toque de Botticelli. Neto de Gianni Agnelli, foi designado pelo avô “príncipe herdeiro” aos 21 anos, depois da morte trágica do primo Giovannino, o sucessor natural. Na família há uma regra: “Só um comanda.” Estabeleceu uma meta: manter a família unida — mais de 70 herdeiros — e transformar a Fiat numa “empresa global”.

A Fiat comprou a Chrysler mas os Agnelli deixaram de estar centrados no automóvel. Jaki gosta de investir nos jornais: na Itália (La Stampa ou o Corriere della Sera), nos Estados Unidos (The Wall Street Journal) ou na França (Le Monde). Agora é o “acionista convidado” de uma das mais influentes revistas do mundo. 

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JACK TAYLOR/afp

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