Jonathan Jones é um dos críticos de arte do Guardian. É um bom provocador. Hoje em dia um crítico conseguir provocar é ainda mais difícil do que um artista chocar.

Na quarta-feira, com quase 4000 partilhas, elogiou o último selfie de Kim Kardashian em que ela aparece diante dum espelho a segurar um iPhone e a mostrar a barriga grávida (modesta) e, mais uma vez, o rabo (gigantesco). A fotografia é má. Está mal enquadrada, mal iluminada e é entediante.

O cabeçalho do sub-editor do Guardian é brilhantemente maldoso e chamativo: "Eis porque o selfie de grávida de Kim Kardashian daria tesão a Ticiano". Aquilo que Jones escreveu foi apenas "que o selfie delicioso de Kim Kardashian teria sem dúvida impressionado Ticiano".

Mas JJ também diz que o selfie de KK é "corajoso, original — e artístico". Não é nenhum desses três adjectivos. É tímido, banal — e comercial.

Bem sei que é a silly season (bem-vindo ao clube). Mas, para começar a ser provocador, não basta dizer que Ticiano ficaria impressionado com KK. É preciso dizer que o selfie de KK é superior a Ticiano ou melhor por ser mais actual e menos pintado e preocupado com a luz do que o obsessivo, masculino e antiquado Ticiano. E depois fingir que se faz um esforço para explicar porquê.

KK é uma nulidade exibicionista que, quando JJ está aflito de tempo e de assunto, não se torna mais interessante por JJ fingir interessar-se por ela. Até Ticiano — esse velho reaccionário — sabia isso.