Google passa a ser uma “letra” da Alphabet, a nova empresa dos fundadores

Sundar Pichai nomeado CEO do “novo Google”, que se transforma numa subsidiária focada nos produtos e negócios online.

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Acções do Google vão ser transformadas em acções da Alphabet, mantendo os mesmos direitos e opções PASCAL ROSSIGNOL/REUTERS

É uma das maiores mudanças na história do Google. Os dois co-fundadores, Larry Page e Sergey Brin, vão encabeçar um novo grupo empresarial, chamado Alphabet, de que o Google será uma subsidiária – uma “letra”, na metáfora da nova estrutura. Ao lado Google passarão a estar outras subsidiárias e áreas de investigação afastadas do negócio central, como os carros autónomos, as várias incursões no sector da saúde e o investimento de capital de risco.

A nova empresa terá Page como CEO, ou presidente executivo, e Brin como presidente não executivo. Page ocupava o cargo de presidente executivo do Google, onde será substituído por Sundar Pichai, 43 anos, um dos vice-presidentes da empresa, que teve uma rápida ascensão nos últimos anos, acumulando responsabilidades e dando a cara por alguns dos lançamentos mais importantes de produtos.

A Alphabet será a empresa cotada em bolsa e será a dona de todo o capital do Google, que fica centrado no negócio da Internet, o que inclui a pesquisa e a publicidade online, que constitui, de longe, a maior fonte de receitas do grupo. Os resultados do Google serão detalhados separadamente na apresentação de resultados da Alphabet, que comunicará os restantes indicadores financeiros por segmento de actividade.

Depois do anúncio inesperado do Google, Wall Street reagiu de imediato após o período de negociação e as acções subiram 7% para 708 dólares (645 euros). As acções do Google vão ser transformadas em acções da Alphabet, mantendo os mesmos direitos e opções. A Comissão da Bolsa de Valores dos Estados Unidos já terá sido informada desta mudança. A Alphabet vai ser cotada em bolsa com os códigos GOOGL e GOOG.

“A Alphabet é sobretudo uma colecção de empresas. A maior das quais, claro, é o Google”, explicou Larry Page, num texto em que anunciou a novidade.

“Este novo Google está um pouco mais magro, com as empresas que estão muito longe dos nossos principais produtos de Internet a fazerem antes parte da Alphabet”. Page dá os exemplos da Calico (uma empresa cujo objectivo na área da saúde focada em aumentar a longevidade das pessoas), da Life Sciences (que desenvolve lentes de contacto capazes de medir a glicose) e dos laboratórios X. Para além destas, há também, por exemplo, a Nest, uma companhia da chamada Internet das Coisas, que foi comprada pelo Google e que desenvolve termostátos inteligentes. O Quartz elaborou uma lista alfabética das empresas que ficam sob o tecto da Alphabet.

No novo modelo, a regra é que cada uma destas empresas tenha o seu próprio presidente executivo, que será apoiado por Page e Brin (que também decidem quanto ganham estes executivos). A Alphabet terá também a tarefa de alocar recursos financeiros a cada subsidiária.

Ainda sem saberem o que esperar desta reestrutura, os investidores esperam, pelo menos, que este passo inicie um processo de maior transparência no Google, que mantém sob forte controlo as finanças do YouTube, Android e outras das empresas.

Com um valor de mercado de mais de 367 mil milhões de dólares (333,5 mil milhões de euros), o Google, fundado em 1988 por Page e Brin, tornou-se muito mais que um motor de busca. “[Esta restruturação] sugere que, muito provavelmente, o Google não vai diminuir o ritmo de seus processos experimentais como carros sem condutor”, observou à Reuters Michael Yoshikami, director da Destination Wealth Management, que tem sob gestão 1,5 mil milhões de dólares da empresa.

Uma análise da Global Equities Research feita para a AFP sustenta que além dos seus projectos já conhecidos, o Google estará a preparar-se para “investir muito dinheiro em investigação e desenvolvimento, onde os retornos de investimento serão de longo prazo”. Brian Wieser, analista no Pivotal Research Group, sublinha que este passo vai promover uma “transparência incremental ao negócio Google e sugere que a empresa está à procura de formas para equilibrar os interesses dos fundadores e dos funcionários com os dos investidores”. “Em jeito de balanço, as notícias são positivas”, reforçou Wieser.

Quem é o novo sr. Google?
Sundar Pichai, 43 anos, chega ao cargo de presidente-executivo do Google, onde entrou em 2004, e torna-se um dos últimos indianos a conseguir uma função de alto perfil na indústria tecnológica norte-americana. Pode dizer-se que Pichai é um exemplo da concretização do sonho americano, mas para trás houve uma subida cautelosa, fruto da vida humilde que teve.

Nascido em Chennai, na Índia, viveu com a família numa pequena casa, onde dormia na sala, sem televisão. O pai ajudou a que se interessasse pelo mundo da mecânica e da tecnologia. “Costumava chegar a casa e falar com ele sobre o meu dia de trabalho e os desafios que tinha enfrentado”, contou à Bloomberg Regunatha Pichai, que trabalhou na britânica General Electric Company. Pichai prosseguiu os estudos até se formar em Engenharia Metalúrgica pelo Institute of Technology in Kharagpur. Era considerado um dos mais talentosos e brilhantes do curso.

De Kharagpur deu o salto para Stanford, nos Estados Unidos, através de uma bolsa de estudo que conseguiu na Índia. Após o seu percurso estudantil, Pichai entra no Google, onde teve sob a sua responsabilidade como o Chrome e o sistema operativo Android. Onze anos depois da primeira função na empresa, Pichai chega ao topo da hierarquia. O legado que o espera é gigantesco. Larry Page e Sergey Brin passam a uma nova fase.

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