Sérgio Costa ganhou um prémio a analisar o que falha no empreendedorismo

Mudar "qb" é o conselho para as "spin-offs" do português que venceu o prémio Heizer 2015 e que durante um ano observou o comportamento de empresas nascidas em contexto universitário

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Kacper Pempel/Reuters

Quanto deve uma empresa mudar o seu plano de negócio nos primeiros anos de vida? “Em linguagem comum: nem muito, nem pouco”, responde Sérgio Costa. O modelo desenvolvido por este investigador do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC-Tec), permite perceber o equilíbrio entre as alterações à estratégia de uma firma e a sua performance. Este foi o motivo pelo qual lhe foi entregue, esta segunda-feira, o Heizer, um dos mais importantes galardões internacionais de estudos sobre empreendedorismo, que premia o seu trabalho de doutoramento feito no Reino Unido.

A análise feita por Costa permite perceber uma relação entre as alterações no modelo de negócio e a performance da empresa que, num gráfico, se desenha como um U invertido. Ou seja, as empresas que fazem muitas mudanças têm pior performance, mas também as mais estáticas alcançam maus resultados. O segredo é, portanto, aplicar mudanças “qb” para ir corrigindo a estratégia em função da interacção inicial com clientes e potenciais parceiros.

De acordo com este investigador sénior do INESC-Tec, os limites inferior e superior do gráfico de mudança nas firmas variam em função do tipo de indústria em que estas operam, criando pontos de equilíbrio diferentes para as tecnológicas ou sectores de indústria mais pesada. No entanto, “só os limites são diferentes. Muda a escala, mas a relação é sempre de um U invertido”, explica.

Esta é a principal conclusão de “Mudança no modelo de negócio em spin-offs universitárias na fase inicial” (“Business Model Change in Early-Stage University Spin-offs”) a tese de doutoramento que Sérgio Costa fez na Universidade de Strathclyde, em Glasgow (Escócia). No âmbito desse trabalho, o investigador acompanhou durante um ano oito empresas spin-offs nascidas no contexto daquela universidade britânica. A escolha sobre este género foi justificada pelo facto de se considerar que são organizações que operam num contexto de muita mudança, não só por estarem na fase inicial dos seus percursos, mas também por serem criadas e geridas por investigadores universitários, que têm altos níveis de conhecimento científico, mas a quem faltam geralmente os conhecimentos de gestão.

As conclusões deste trabalho permitem traçar um retrato de um "spin-off" de sucesso. As empresas com maior performance têm mercados-alvo e aplicações das tecnologias desenvolvidas mais concentradas. São também estas firmas que tendem a interagir mais intensivamente e mais cedo com potenciais clientes e peritos na indústria, bem como a fazer mais parcerias com uma variedade ampla de actores. “Em tudo o resto, são empresas que se mantêm muito estáveis”, valoriza Costa.

Pelo contrário, as empresas com pior performance tendem a percepcionar que têm mais falta de recursos de todo o tipo. Por isso estão sempre a fazer pequenos ajustes e esse “excesso” de mudança vai revelar-se fatal para a sua performance. Daí que Sérgio Costa saliente a importância do início da vida das spin-offs universitárias: “É preciso começar bem, com objectivos bem definidos e fazendo uma série de interacções que permitam acertos. Quem começa mal, queima recursos, queima tempo, e rapidamente começa a haver algum descrédito junto dos investidores”.

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