Análise ao Austrália-Nova Zelândia, parte II

O que devem mudar os All Blacks para o próximo jogo contra os Wallabies?

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Na segunda de seis análises de Francisco Branco e Luís Cassiano Neves ao Austrália-Nova Zelândia (27-19) do passado fim-de-semana, que ditou a conquista dos Wallabies do Rugby Championship e que serão publicadas até quinta-feira, Luís Cassiano Neves, coloca uma questão sobre a partida a Francisco Branco.

 

Luís Cassiano Neves (treinador campeão nacional pelo CDUL): Nos primeiros 15 minutos, o formato de ataque neozelandês funcionou na perfeição. Depois, foi a implosão. Erros, más decisões e má forma de jogadora chave. O que mudarias em sete dias para garantir que a Taça Bledisloe se mantém na Nova Zelândia e a confiança pré-mundial não fica definitivamente prejudicada?

 

Francisco Branco (treinador das selecções nacionais de Sub-17 e Sub-18): Nos primeiros 15 minutos, eu diria que o formato e a estratégia de ataque dos All Blacks foi funcionando e era uma boa estratégia. De forma muito simplista, creio que passava por tentar conter a primeira vaga de defesas, utilizando frequentemente as perfurações na zona do 10 / 12, apostando numa rápida reciclagem da bola nesse primeiro momento de colisão (ou mesmo na transmissão para um “release” antes do contacto) que, lhes permitiria numa segunda fase, jogar para o canal 3 onde são tradicionalmente muito perigosos. Foi assim que conseguiram criar perigo, por exemplo, na sequência que terminou com o cartão amarelo ao pilar australiano, e em mais um par de situações.

 

Depois houve aquele que, na minha opinião, foi um momento chave do jogo. O “offload” do Brodie Retallick para Sonny Bill Williams (SBW) que não saiu e que queimou a 3.ª oportunidade seguida dos neozelandeses na zona dourada. Já não estavam a jogar muito bem. Demoraram muito a encontrar-se depois de (mais) este erro não forçado.

 

Para a próxima semana serão estas, na minha opinião, as áreas chave para os campeões do mundo:

Zona da Colisão: Os All Blacks perderam, sem margem para dúvidas, o duelo do jogo no chão. Há muito tempo que não se via uma equipa neozelandesa conceder tantos “turnovers”. Mérito, claro está, para a Austrália (e aqui se destaca o trabalho do Hooper e do enorme Pocock), mas muito demérito para o apoio dos homens de negro. Nunca conseguiram aparecer com o timing correcto e em número suficiente para que as reciclagens de bola não demorassem uma eternidade ou acabassem em turnover.

 

Profundidade do Apoio / Capacidade de Explorar o Canal 3: Antevendo a pressão da defesa australiana, a Nova Zelândia optou por dispor os seus jogadores com menor profundidade entre si. Não só pelos executantes que tinha em campo (e aqui, SBW a adaptar-se mal a este sistema), mas também por algumas falhas na tomada de decisão os All Blacks nunca conseguiram criar boas linhas de passe para o portador da bola. Isto, impediu, várias vezes que fosse possível fazer chegar a bola em boas condições às ameaças Savea e Milner-Skudder que conseguem, na maioria das vezes, ganhar a linha da vantagem e pôr a defesa a recuar. No contacto, a história era a mesma. Ora havia profundidade a menos, levando o apoio a ter de parar antes do contacto, ou a mais, o que significa atraso na chegada e, na maioria das vezes, perda da posse de bola.

 

Formação ordenada (FO): Uma equipa como os All Blacks não pode ser, tantas vezes, dominada na mêlée. Para além das penalidades que concedeu, estar fraco nesta área de jogo dá ao adversário um ascendente psicológico que não ajuda ao desempenho. Para além disso, se é para não dar uma importância grande à FO, então vale a pena equacionar a utilidade, dentro do campo, de alguns jogadores.

 

Placagem individual: Não se podem falhar placagens como vimos falhar no último sábado. Colectivamente a defesa dos All Blacks esteve bem, mas individualmente deixou a desejar. Prova disso são os dois ensaios dos Wallabies consentidos por falhas de placagens infantis.     

 

Abordagem ao Jogo: Os All Blacks foram arrogantes. Tenho dúvidas que tenha sido de forma consciente, mas foram-no na abordagem ao jogo e foram-no sendo durante o jogo. Notava-se, visto de fora, que havia uma crença colectiva que seriam capazes de dar a volta ao resultado e que o jogo ia acabar por cair para o lado deles. Acreditaram que, se tudo o resto falhasse, a sua dinâmica de vitória seria suficiente para ganhar em Sidney. Este foi, talvez, o seu maior erro. Porque a dinâmica de vitória só existe se cada um dos jogadores puser todas as suas fibras ao serviço da equipa. E toda a preparação para o próximo jogo, tem de passar por aqui. Por despirem o smoking e vestirem o fato de macaco, pois é com ele vestido que são, e continuarão a ser a melhor equipa desportiva do mundo!

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