Estátuas da dinastia Kim crescem como cogumelos na Coreia do Norte

O neto Kim Jong-un está a construir monumentos ao pai e ao avô por todo o país, para cimentar o seu poder

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Estátuas de Kim Il-sung e de Kim Jong-il no centro de Pyongyang KCNA/REUTERS

O “Presidente eterno” Kim Il-sung continua a reinar – dizem os norte-coreanos – ainda que tenha morrido há 21 anos. O filho, o “Querido Líder” Kim Jong-il, morreu em 2011, mas está embalsamado, junto ao seu pai, num enorme mausoléu, do tamanho do Palácio de Buckingham, nos arredores de Pyongyang. E o neto, o “Grande Sucessor” Kim Jong-un, está a assegurar-se que nenhum dos seus súbditos se esquece da linha sucessória, reforçando o bizarro culto da personalidade que a família perpetua há 60 anos.

O mais recente veículo para o “Kimismo” é a construção de novas estátuas. O regime tem andado a deitar abaixo estátuas velhas de Kim Il-sung por todo o país – um acto que exigirá todo o tipo de autorizações, pois até colocar um jornal com uma foto de um dos Kims virada para baixo é considerado uma ofensa equivalente a traição – para as substituir por novas e enormes estátuas de Kim avô e Kim pai.

“Isto parece parte do plano de Kim Jong-un para dar mais solidez à sua sucessão hereditária e usar o manto do seu pai”, comenta Curtis Melvin, um investigador do Instituto da Coreia na Universidade Jonhs Hopkins, nos EUA. Ao estudar a geografia da Coreia do Norte utilizando imagens de satélite, notou que as estátuas estão a ser substituídas – o seu conhecimento do país através do Google Earth foi precioso para notar as diferenças.

A primeira estátua substituída foi a de Kim il-sung em Mansudae, uma colina no centro de Pyongyang que é sempre a primeira viagem das visitas guiadas de qualquer estrangeiro recebido na capital norte-coreana. Ali dão-lhes ramos de flores e pedem-lhes que as depositem aos pés do “Presidente eterno”, e espera-se que façam uma vénia ao fundador do regime.

Em 2012, no entanto, pouco depois da morte de Kim Jong-il, a estátua foi retirada e surgiram ali duas outras: uma é de Kim Il-sung mas é nova, ou pelo menos foi consideravelmente remodelada, e a outra do seu filho. Só que inicialmente a estátua do Kim mais novo apresentava-se com um casaco leve e em breve foi substituída por um modelo com um pesado casaco de Inverno, para se assemelhar à estátua do seu pai.

Calcula-se que estas estátuas tenham 21 metros de altura, e parecem ser em bronze.

Desde então, as estátuas de Kim sénior em todo o país têm estado a ser substituídas metodicamente por novas estátuas dele e do seu filho. Esta substituição tem sido bastante notada na imprensa norte-coreana.

“Erguer estátuas na província é um acto importante para glorificar as carreiras revolucionárias e os feitos de Kim Il-sung e de Kim Jong-il”, declarou esta semana a Agência Noticiosa Central da Coreia, um organismo estatal, na altura da inauguração de novas estátuas em Phyongsong. Um representante oficial, citado pela agência, “apelou a todos os funcionários e trabalhadores da província para que defendam e glorifiquem para sempre as ideias e feitos [dos dois Kim], como dignos descendentes do Presidente e soldados e discípulos do líder”.

Quanto ao custo de toda este empreendimento de estatuária, é inquantificável. Não é possível saber com certeza quais as suas dimensões, nem em que materiais são feitas. Mas Adam Cathcart, especialista em Coreia do Norte da Universidade de Leeds, no Reino Unido, tem a certeza de que implicará “grandes gastos.”

No entanto, o projecto de glorificação dos anteriores Kims para solidificar a legitimidade de Kim Jong-un não se fica pela estatuária. “Também há monumentos a Kim Il-sung e Kim Jong-il a serem construídos pelo país fora. Contei 233, e ainda há mais em construção”, assegura o norte-americano Curtis Melvin.
Será uma forma de estimular o sector da construção civil, ao estilo Kim?

Exclusivo PÚBLICO/Washington Post

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