Arruda dos Vinhos revoltada com poluição no Rio Grande da Pipa

Poderão estar a chegar efluentes industriais à ETAR de Arruda que esta não consegue tratar e que assim chegam ao rio.

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Miguel Manso

As águas do Rio Grande da Pipa, especialmente no troço que marca a fronteira entre as freguesias de Arruda dos Vinhos e Cardosas, apresentam-se, nas últimas semanas, altamente poluídas, numa situação que está a gerar preocupação e protestos de moradores, que já denunciaram o caso ao Ministério do Ambiente e à GNR. Esta linha de água, a maior que atravessa o concelho de Arruda dos Vinhos, desagua, depois, no Tejo, próximo da Vala do Carregado. Nas proximidades de Arruda e sobretudo na zona da Ponte das Caldeiras, as águas apresentam-se ora cinzentas ora negras, salpicadas por manchas de espuma branca e por pedaços de um material que quase parece alcatrão.

A Câmara de Arruda e a EPAL (empresa agora responsável pela gestão da Águas de Lisboa e Vale do Tejo) admitem que uma das origens desta poluição poderá estar na própria Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Arruda, considerando que poderão estar a afluir a esta ETAR efluentes industriais que o equipamento não tem capacidade para tratar. Técnicos da autarquia e da antiga Águas do Oeste (hoje integrada na Águas de Lisboa e Vale do Tejo) têm estado, nos últimos dias, a investigar, também, eventuais descargas poluentes efectuadas a montante. O certo é que a situação não mostra sinais de melhoria e as águas do rio passaram mesmo, nos últimos dias, de um tom cinzento para o negro pastoso.

Na zona são escassos os moradores, mas alguns proprietários de terras queixam-se de maus cheiros e do aspecto da água. Um deles já apresentou queixa formal à Agência Portuguesa do Ambiente e outro critica a forma como a Câmara e a Águas do Oeste decidiram encaminhar efluentes industriais para a ETAR de Arruda sem que esta estivesse devidamente preparada. Também o Serviço de Protecção da Natureza da GNR está a investigar o caso.

Mário Anágua de Carvalho, vereador com o pelouro do Ambiente na Câmara de Arruda, disse, ao PÚBLICO, que, em Outubro/Novembro de 2014, os efluentes da Zona Industrial das Corredouras (situada a 1 quilómetro de Arruda e a 3 do local onde a poluição actualmente mais se manifesta), até então lançados directamente numa pequena ribeira vizinha, passaram a ser encaminhados para a Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Arruda. Parte destes efluentes não têm tratamento prévio e houve, então, necessidade de fazer alguns ajustes ao funcionamento da ETAR. Percebeu-se que começava a não ter capacidade para tratar toda a quantidade e qualidade de esgotos que ali afluía e, por isso, segundo Mário de Carvalho, a Águas do Oeste (responsável pela gestão da estação de tratamento) iniciou a elaboração de um projecto de remodelação e ampliação da ETAR de Arruda, cuja execução deverá avançar em breve. 

Esta ETAR de Arruda lança, por sua vez, os seus efluentes no Rio Grande da Pipa. Com o avançar do Verão e sem chuvas, o caudal do rio diminuiu bastante e a zona da Ponte das Caldeiras (cerca de dois quilómetros a jusante da ETAR) mostra-se, agora, muito poluída. 

“Se houve alguma descarga ilegal, é difícil detectá-la. Não sabemos se aconteceu. Mas ali próximo não há nenhuma indústria, nem nenhuma pecuária. Terá que vir mais de trás”, diz o autarca arrudense, explicando que técnicos da edilidade e da antiga Águas do Oeste têm vindo a percorrer o rio no sentido inverso ao caudal procurando identificar alguma origem do problema. Ao mesmo tempo, a autarquia está a tentar fazer algumas análises a efluentes de algumas empresas da Zona Industrial das Corredouras.

“Da ETAR virá uma parte. Se há mais alguma coisa, algumas descargas para o rio, é o que estamos a tentar apurar”, prossegue o vereador do Ambiente, reafirmando que a Águas do Oeste tem feito alguns ajustes no funcionamento da ETAR, está a fazer diversas análises e vai avançar com uma ampliação da estação de tratamento.

Depois, o edil admite que pode haver efluentes encaminhados “indevidamente” para a ETAR, hipótese que a Águas de Lisboa e Vale do Tejo (ver caixa) também está a investigar. “Como estávamos antigamente é que não podíamos continuar, os efluentes industriais estavam a ir, sem tratamento, directamente para a linha de água. Isso é que era inadmissível e, por isso, fizemos a ligação. Na altura detectámos alguns problemas e foram feitos ajustes na ETAR. Agora, o facto do rio ter menos caudal também pode contribuir”, conclui o autarca arrudense.

Epal investiga fontes poluidoras
O gabinete de comunicação da EPAL (responsável pela gestão das Águas de Lisboa e Vale do Tejo) explicou, por seu turno, ao PÚBLICO que, juntamante com a Câmara de Arruda, estão a ser desenvolvidos “todos os esforços no sentido de apurar a origem dos afluentes que estão a chegar ao sistema de saneamento da rede municipal e que não cumprem os níveis de qualidade estipulados”.

A empresa sublinha que “a ETAR da Arruda dos Vinhos foi concebida para tratar, com os padrões mais exigentes, as águas residuais, de características urbanas, provenientes da sede de concelho e áreas urbanas adjacentes”, mas esclarece que “a descarga, na rede municipal, de águas residuais industriais com características totalmente diferentes das águas residuais urbanas não cumpre o previsto, resultando na perda de eficiência da instalação”.

De acordo com a EPAL, “até ao momento, desconhece-se quais as fontes poluidoras que possam contribuir ou ter contribuído para a degradação do estado da linha de água”.

 

               

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