A Animalife apoia quem não pode alimentar os animais

Associação portuguesa quer evitar o abandono de animais e apoia, por mês, 380 famílias carenciadas que deixaram de poder alimentar cães e gatos. Rodrigo Livreiro, o fundador, quer ver esta ajuda em todos os concelhos do país.

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Vasily Fedosenko/Reuters Vasily Fedosenko/Reuters

“O que fazer quando se deixa de ter condições económicas para comprar a ração ou pagar as despesas veterinárias de um animal de companhia?” A interrogação é feita por Rodrigo Livreiro, em início de conversa sobre a Animalife. Esta associação portuguesa com sede em Lisboa dá apoio a outras instituições que protejam animais e a famílias carenciadas. O objectivo final? “Evitar que as famílias se vejam obrigadas a abandonar ou abater os animais”, resume.

“As associações humanitárias não têm uma resposta muito positiva a dar na parte dos animais porque o apoio que prestam é mais focado para as pessoas”, reflecte Rodrigo, 31 anos. Quando as famílias perdem a capacidade de alimentar os cães ou os gatos, as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) “são obrigadas a sugerir a entrega [destes] num canil municipal”. Daí que o jovem, formado em gestão e marketing, tenha decidido, há quatro anos, apostar em tentar resolver o problema a montante. De acordo com dados de 2013 da Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária, perto de 30.000 cães e gatos foram abandonados. Os números respeitantes a 2014 não são, ainda, conhecidos.

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Rodrigo tem 31 anos e além da Animalife tem uma empresa de seguros de saúde para animais Mara Carvalho

O primeiro contacto de Rodrigo com a realidade da causa animal aconteceu há mais de seis anos, quando se apercebeu da lacuna existente nas estruturas de seguros. “Para quem tem animais de companhia, é sempre difícil recorrer aos veterinários para o tratamento de doenças, cujas despesas são sempre elevadas. A minha actividade profissional é no sentido da criação de seguros de saúde que permitam aos donos de animais ter comparticipações directas nas despesas veterinárias”, explica. Assim nasceu a Animadomus, precursora da Animalife.

O combate ao abandono é travado pelos 150 voluntários da Animalife, que em época de campanhas de doação — que acontecem duas vezes por ano, em hipermercados — chegam a ser 3.000, conta Rodrigo. Os centros de atendimento directo ao público são seis (em Lisboa, Oeiras, Seixal, Sintra, Coimbra e Vila Nova de Gaia) e prestam apoio a 380 famílias por mês, o que se reflecte em 2.000 animais beneficiários. No total são dados 5.500 quilogramas de ração, mensalmente, a estes animais.

Quando falamos do apoio prestado a associações — 137 em todo o país —, os números disparam. Por ano, a Animalife fornece ração para alimentar “um universo estanque de 25.000 animais”. “As associações são estruturas locais que recolhem animais na medida do possível, tentam combater o abandono retirando alguns da rua e encontrando adoptantes para os mesmos”, diz o presidente da direcção da Animalife. Mas, continua, “são estruturas muito deficitárias, que carecem de apoio na alimentação, vacinação e desparatização”. Por outro lado, “não estão preparadas para evitar o abandono pela via do apoio a famílias carenciadas”.

Nova campanha de angariação para breve

Maio e Setembro são os meses em que as campanhas de recolha de doações acontecem, numa parceria com a Sonae (dona do PÚBLICO). Os alimentos recolhidos costumam ser suficientes para o período que separa os dois momentos de campanha — algo que mudou desde Maio último. “A ração que angariámos em Maio não chegou para os meses de intervalo até à próxima campanha”, admite Rodrigo, que se viu obrigado a recusar novos pedidos de ajuda. As próximas campanhas a nível nacional estão agendadas para os dias 26 e 27 de Setembro (nas lojas Continente) e 10 e 11 de Outubro (nas lojas Continente Modelo).

Além da ração, a associação também oferece a possibilidade de cuidados veterinários gratuitos ou com custos mais reduzidos, dependendo do protocolo municipal estabelecido em cada uma das seis cidades onde existem centros de apoio. “Estamos a sensibilizar as câmaras e as juntas de freguesia para que disponibilizem gratuitamente os serviços básicos que hoje em dia prestam, principalmente porque alguns deles são obrigatórios [como o registo ou o “chip” de identificação]. Se uma família não tem condições para comer, quanto mais para registar ou vacinar contra a raiva o animal.”

Para Rodrigo, igualmente importante é “fazer com que as pessoas compreendam que, para muitas famílias, principalmente as mais idosas, o animal é a única companhia para conversar ou passear”. Levar a ajuda da Animalife a mais concelhos é um dos objectivos do seu fundador. “Ver o animal passar fome é algo que custa muito a qualquer dono.”

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