Dupla de arquitectos do Porto tenta preservar barracas do Bolhão

Petição online para convencer Câmara do Porto a recuperar estruturas do terrado conta com 480 assinaturas.

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As "barracas" foram construídas nos primeiros anos de funcionamento do Mercado do Bolhão Paulo Pimenta
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Desenho do mercado, com reabilitação dos actuais pavilhões DR- AGCS Arquitectos
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Proposta mostrada aquando da apresentação do projecto de reabilitação do Bolhão DR
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O mercado num postal de 1920, já com as barracas DR
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Desenho das Barracas, para pormenorização dos toldos, de 1923 DR - Arquivo Municipal do Porto
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A zona central do terrado do Bolhão em 1923, sem a passagem superior, que seria acrescentada na década de 40 DR
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As "barracas" foram construídas nos primeiros anos de funcionamento do Mercado do Bolhão Paulo Pimenta
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As "barracas" foram construídas nos primeiros anos de funcionamento do Mercado do Bolhão Paulo Pimenta
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As "barracas" foram construídas nos primeiros anos de funcionamento do Mercado do Bolhão Paulo Pimenta
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As "barracas" foram construídas nos primeiros anos de funcionamento do Mercado do Bolhão Paulo Pimenta

Uma dupla de arquitectos do Porto pretende convencer a Câmara do Porto a preservar as barracas do Mercado do Bolhão, com os seus telhados de ardósia. Os primeiros desenhos do novo projecto de reabilitação deste monumento mostram um terrado com novas estruturas, mais leves, para a venda de produtos frescos, mas Alexandre Gamelas e Catarina Santos consideram que mais do que com uma “reinterpretação”, o mercado ganharia se aquelas peças fossem recuperadas. A Câmara do Porto não assume, neste momento, uma posição sobre o assunto.

Alexandre Gamelas e Catarina Santos gostam de coisas antigas. Adeptos da arquitectura tradicional, os autores do blogue Old Portuguese Stuff gostam de se perder nos pormenores que encontram na rua e, por isso, ficaram desapontados quando viram as primeiras imagens virtuais do futuro novo-velho Bolhão, apresentadas em Abril pelo município. No meio do entusiasmo, que eles partilham, pela opção por um projecto que mantém muito do que foi este mercado ao longo de um século, poucos terão reparado, admitem, que as antigas barracas surgem substituídas por uma estrutura mais leve. “Mesmo alguns arquitectos nossos amigos só se aperceberam depois de olharem uma outra vez para as imagens”, nota Catarina Santos.

Desde então, a questão não lhes sai da cabeça, como se pode perceber pela dúzia de posts que escreveram sobre o tema, profusamente ilustrados com fotografias de pormenor, postais antigos e até desenhos técnicos que encontraram no arquivo municipal, datados dos anos 20. Entretanto, tentaram contactar o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, por correio electrónico e pelo Facebook, mas não obtiveram resposta. E, mais recentemente, lançaram uma petição online. Em português e inglês – que eles fazem parte da IntBau, a Rede Internacional para a Construção, Arquitectura e Urbanismo Tradicionais – a dupla faz a defesa destes pavilhões, e para já conseguiram convencer 480 subscritores. Agora pretendem esperar que Agosto termine, para insistirem, com maior veemência, com os responsáveis políticos.

Contactado pelo PÚBLICO, o assessor de imprensa de Rui Moreira explicou que o município não comenta petições. Nuno Santos disse ainda desconhecer o que acontecerá às barracas do terrado do Bolhão porque, adiantou, o programa do concurso público, e o projecto detalhado, devem ser conhecidos no momento do seu lançamento, previsto para o fim do Verão. “Aí se verá se a proposta é mais parecida com o que se mostrou, nas imagens virtuais, em Abril, ou se teremos algo que se aproxima mais do que lá existe agora”, notou, assumindo que, há três meses e meio o desenho daquela parte do mercado não estava detalhado.

Os pavilhões que albergam os comerciantes da zona central do bolhão, ao longo de quatro fiadas, parecem ter sido uma opção alternativa provocada pelo abandono, por motivos que se desconhecem, da intenção inicial de cobrir o mercado. Não se sabe quando foram construídos, mas sabe-se, por plantas que Alexandre Gamelas e Catarina Santos descobriram no arquivo municipal, que as barracas foram especificamente desenhadas para o local, e que, por postais da época, já lá estavam em 1920, seis anos depois do início das obras. E em 1923 foram desenhados os seus toldos.

“São construções desenhadas e detalhadas de raiz, e parte integral do edifício enquanto mercado. Por serem semi-fechadas, prolongam visualmente a rua no interior e conferem ao Bolhão o seu ambiente característico e único, que lembra vagamente um bazar oriental. Ainda mais interessante é o facto de, dentro do seu aspecto de construção popular, o seu desenho ser fortemente original e uma combinação de elementos aparentemente díspares: colunatas, frontões, arcos de volta inteira e caixilhos de desenho neo-gótico, treliças e respiradouros, que muito raramente aparecem compostos desta forma”, escrevem os arquitectos na petição.

“É fundamental manter as barracas originais do Mercado. São a alma do Mercado! Caso contrário o seu interior passa a ser mais um espaço com bancadas de mercado, igual a outros em qualquer parte do mundo”, concorda o engenheiro civil Paulo Baptista, um dos subscritores da petição “Salvar os pavilhões do Mercado do Bolhão. Outra aderente, Lisbeth R, exclama, num comentário, no seu “melhor português, “Save the barracas”. Muitos dos apelos chegam em inglês, de gente envolvida na rede Intbau. O presidente da Câmara é uma pessoa com mundo, cosmopolita. Acredito que possa ser sensível à percepção que, lá fora, se tem desta parte do mercado”, admite Alexandre Gamelas.

Para a dupla, expurgadas de um conjunto de elementos estranhos que lhes foram acrescentando, as pitorescas barracas mereciam ser salvaguardadas. Com eles “o Bolhão será um dos mais interessantes mercados de todo o mundo”, acredita o arquitecto, descrente da opção que foi dada a ver em Abril, e que não passa, diz, de uma reinterpretação moderna. Escolher um ou outro tipo de estrutura “é um gesto político, de afirmação do tipo de reabilitação que queremos na cidade”, insiste, lembrando que, no interior dos prédios particulares que estão a ser requalificados, “muito está a perder-se”, mantendo-se as fachadas. “É isto que queremos nos edifícios públicos?” – Questiona, interpelando o município.

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