A “rainha” do mergulho em apneia desapareceu no oceano

Corpo de Natalia Molchanova procurado nas Baleares.

Foto
Molchanova numa foto de 2005, quando atingiu a marca dos 86 metros Jacques Munch/AFP

Natalia Molchanova, campeã do mundo de mergulho em apneia, desapareceu no oceano enquanto mergulhava no domingo, no arquipélago espanhol das Baleares. Vítima da sua paixão pela mais extrema modalidade do mergulho, a atleta russa de 53 anos continua a ser procurada.

Com capacidade para suster a respiração durante 9m02s (marca estabelecida em 2013), a recordista mundial feminina de apneia estática mergulhou pela última vez no domingo. “As hipóteses de a encontrarmos são reduzidas”, admitiu a Federação russa de mergulho em apneia, organismo que Molchanova fundou e do qual era presidente.

Aquela a quem a federação chama “rainha” da disciplina estava no domingo a praticar a sua paixão com três amigos, ao largo da ilha de Formentera, no Mediterrâneo. Era um mergulho a uma profundidade entre 30 e 40 metros, pouca coisa para a atleta de 53 anos, 23 vezes campeã do mundo de mergulho em apneia, e capaz de chegar aos 101 metros equipada com barbatanas.

No domingo, Molchanova mergulhou sem barbatanas ou lastro. Em vez de regressar ao local previsto, apareceu à superfície a cerca de 60 metros do ponto de partida, provavelmente devido a “fortes correntes subaquáticas”, antes de desaparecer por completo, segundo informações da Federação russa de mergulho em apneia. As autoridades espanholas têm vindo a realizar buscas nas profundezas e à superfície da água ao longo dos últimos dias, mas a operação, que deverá prolongar-se até domingo, não obteve quaisquer resultados.

“Natalia tinha uma paixão pela apneia que a devorava, de tal maneira que ela consagrou-lhe a própria vida”, afirmou o filho Alexey Molchanov, de 28 anos e também ele recordista da disciplina. “O mundo perdeu a sua maior mergulhadora em apneia no domingo”, lamentou William Trubridge, campeão neozelandês de apneia, através da rede social Facebook, evocando uma mulher “indómita, mas doce”.

Uma paixão tardia
Nascida a 8 de Maio de 1962 em Ufa, a oeste da cadeia montanhosa dos Urais, Molchanova abandonou a natação de competição aos 20 anos para ter dois filhos, Alexey e Oxana. Natalia descobriu o mergulho em apneia aos 40 anos e rapidamente se deixou apaixonar por este desporto extremo, que pode custar a vida aos seus adeptos.

Detentora de sete dos oito recordes mundiais femininos do mergulho em apneia, Molchanova destacou-se por ser a primeira mulher a ultrapassar a barreira dos 100 metros, e a primeira a suster a respiração em mergulho estático durante mais de nove minutos. “Descontraiam. Façam movimentos lentos. É necessário unirmo-nos à água e não procurar dominá-la”, aconselhava a atleta doutorada em Pedagogia e autora de várias obras sobre o mergulho em apneia.

“Ela foi uma inspiração para todos os mergulhadores em apneia e, mesmo que tenha sido uma das competidoras mais ferozes do mundo, estava sempre calma e descontraída durante as competições”, recordou Alexey Molchanov.

Natalia Molchanova, que olhava para as competições desta disciplina como “jogos de adultos”, não foi a primeira mergulhadora a quem a paixão custou a vida. Em 2002, a francesa Audrey Mestre, que detinha então o recorde mundial feminino de mergulho em apneia, morreu ao largo da República Dominicana quando praticava um novo exercício. Em Junho passado, um outro desportista, o franco-suíço Laurent Bourgnon, três vezes campeão do mundo em provas de vela de longa distância, desapareceu durante um mergulho em apneia na Polinésia Francesa.

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