Assassinos de leões

Os gatos civilizam-nos. Tornam-nos humanos.

Hoje apareceu um novo gato nas nossas vidas. Tem uma coleira encarnada com um sininho. Apresentou-se cordialmente, com salamaleques de gatos muito mais velhos do que o ano de vida que tinha.

Fomos os últimos a descobri-lo, mais do que avisados pelas nossas vizinhas Maria e Ana, mas ele não nos levou a mal por isso. Gostou do que oferecemos (natas e sardinhas) e deu-nos o benefício da dúvida.

Os gatos civilizam-nos. Tornam-nos humanos. A história do dentista americano que pagou uma fortuna para matar um leão com uma seta é capaz de ser a mais triste deste novo milénio.

Os dentistas são pessoas boas. Mas logo haveria de haver um, dos EUA, disposto a pagar 50 mil dólares para assassinar um leão. Queixou-se depois que não sabia que o leão era popular no Zimbabwe. Pois sim. Quem é que é realmente popular no Zimbabwe, a não ser, com toda a certeza, o leão chamado Cedric?

A fotografia de Walter Palmer com um braço à volta doutro grunho amigo, mostrando os dentes perfeitos enquanto montados no cadáver do Leão Cecil - com os olhos fechados e o pelo manchado do sangue da morte violenta, estúpida e, acima de tudo, frívola e cruel - só mostra como os nossos tempos e as pessoas que teimam em viver nos tempos anteriores se encontram na mais monetária das sintonias.

O novo gato que apareceu por sorte e o velho leão do Zimbabwe que mataram por prazer estarão para sempre ligados por um mesmo fio de indecisão entre a matança e a morte e a vida e a gratidão.

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