Escolha de Nilza de Sena obriga a organização de Beja do PSD “a engolir sapos vivos”

Passos Coelho revelou “falta de respeito democrático e uma postura arrogante que não fica bem a um líder”, acusa o vice-presidente da distrital alentejana.

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PSD realiza congresso entre 23 e 25 de Março. Pedro Cunha

A decisão atribuída a Passos Coelho de indicar para cabeça de lista da coligação Portugal à Frente, a deputada Nilza de Sena, que não tem qualquer ligação à região, deixou o ambiente na organização de Beja do PSD “de cortar à faca”, descreve um militante social-democrata.

Já Carlos Valente, vice-presidente da Distrital de Beja do PSD, não poupou nas palavras nem se escondeu no anonimato para descrever o que lhe vai na alma: “O presidente do PPD/PSD demonstrou uma enorme falta de respeito democrático e uma postura arrogante que não fica bem a um líder” ao impor como cabeça de lista, quem “não tem qualquer afinidade/ligação ao distrito”.

Apesar de reconhecer que o presidente do partido tem autonomia para tomar uma tal decisão, não lhe parece “adequado que o tenha feito sem informar, com a devida antecedência, a estrutura distrital”, prossegue Carlos Valente, frisando que ficou com um “sentimento profundo de se estar perante um enorme erro político”. O seu nome deixou de constar na lista, por decisão própria.

O estado de alma expresso por este dirigente social-democrata não é um caso isolado, como ficou expresso na reunião da Assembleia Distrital de Beja realizada quinta-feira à noite. Outro militante confidenciou ao PÚBLICO que “não havia lista”, poucas horas antes da Comissão Política da Distrital de Beja ter aprovado “por unanimidade” a sua composição final.

Antes da reunião apenas constava o nome de Nilza de Sena. O “mal-estar era tão grande” que Maria Palma Pires decidiu abandonar a lista alegando “repulsa à forma como o processo foi conduzido”.

A discussão prolongou-se, assim como a incerteza sobre os candidatos que aceitariam concorrer às próximas eleições legislativas com Nilza de Sena. O centro de debate era Mário Simões, que a comissão política distrital tinha aprovado por unanimidade para encabeçar a candidatura pela coligação PSD/PP, opção que Passos Coelho não aceitou, impondo a decisão que acabou por “dividir o partido” na região.

Mário Simões, que nas últimas eleições ocupou o segundo lugar da lista encabeçada pelo actual comissário europeu Carlos Moedas, aceitou recandidatar-se novamente e na mesma posição, decisão que contribuiu para o apaziguamento das posições críticas.

Nas justificações apresentadas através de comunicado, o número dois da lista assinala tratar-se de uma “escolha pessoal (Passos Coelho) e estatutária do presidente do partido” e que, no PSD, “é menos importante a parte que o todo”, assinalando que “qualquer militante que integre a sua estrutura partidária está, do ponto de vista ético, sujeito às decisões que forem tomadas com base no fundamento estatutário.”

A partir daqui, o comunicado procura incentivar os candidatos que integram a lista da coligação “a tudo fazer para que o círculo eleitoral de Beja continue a ter representação social-democrata”.

Um remoque final com destinatário bem identificado. “Em qualquer circunstância o custo da irresponsabilidade de não aceitar é sempre maior, ao custo do constrangimento da imposição”  e que “este não é o momento para vaidades pessoais”.  

“Foi a nossa vez de engolir sapos vivos” comentava outro militante social-democrata, depois de conhecida a composição da lista, “agastado” pelo facto da direcção do partido “insistir em colocar em Beja pára-quedistas, como se a região não tivesse gente à altura da função”. Em Portalegre e Évora os cabeças de lista são os respectivos presidentes das distritais, um pormenor que não escapou a este militante, que diz duvidar que a coligação eleja Nilza de Sena, “tal é a divisão que a candidata provocou na organização de Beja e numa região onde o PSD tem crónicas dificuldades de implantação”.

O primeiro sinal de divisão surgiu esta sexta-feira, durante a cerimónia de assinatura do acordo, entre a ANA-Aeroportos de Portugal e a Aeroneo, para a construção e exploração de uma unidade industrial de manutenção e desmantelamento de aeronaves no Aeroporto de Beja.

Nilza de Sena esteve presente ao lado do secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações, Sérgio Monteiro, mas o número dois da lista Mário Simões primou pela ausência.

A candidata escusou-se a fazer quaisquer comentários sobre a sua candidatura a Beja, comprometendo-se a falar “só depois da apresentação da lista”, uma postura igualmente seguida por Mário Simões, que se recusou a prestar declarações quando instado pelo PÚBLICO.

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