O outro lado do euro

Quem lucra e quem perde com o Euro? Expulsar a Grécia resolve? O que devemos fazer para garantir um futuro melhor para os nossos filhos?

Em 2010 a crise afetou os países mediterrânicos. Treze conhecidos economistas reuniram-se para apresentar uma proposta realista para aliviar a situação da Grécia, Itália, Portugal e Espanha. A dívida pública de França era elevada, e este país foi estudado.

Constatou-se que a Grécia entrou no Euro em 2001 ao manipular as contas públicas. Diz Robert Reich, ex-conselheiro de Gerald Ford e Jimmy Carter, ministro de Clinton, ex-editor da Harvard Business Review e New Republic, que a Goldman Sachs escondeu metade da dívida grega.

A dívida pública italiana é muito maior do que a nossa. Difere, pois é para italianos, e por isso o BCE não a pressiona. A França de Sarkozy tinha também elevado défice orçamental em 2011, mas era parceira vital de Merkel e levou um ténue alerta.

Em Dez/11 os treze apresentaram uma proposta com três alternativas. O Euro não vingaria, com competitividades tão díspares entre Alemanha e França contra Grécia e Portugal. A dívida só cairia com a temporária depreciação do Euro no Sul.

Os treze propuseram o Euro-M (mediterrânico) que valeria por cinco ou seis anos, desvalorizado entre 10 a 15%. Isto permitiria ao GIPS, Grécia, Itália, Portugal e Espanha, exportar mais. A esses seriam exigidas reformas estruturais, que deveriam estar concluídas em cinco anos. Mas era difícil para a França aceitar que perdera para a Alemanha. Diz-se que Sarkozy travou o projeto, à espera de ganhar as eleições de Abril. E a nós deram-nos o nome de PIGS.

O livro ‘Portugal Rural’ relata detalhes de como as bolsas são manipuladas. Campos e Cunha já tinha escrito no ‘Publicamente’ que “a lei do financiamento partidário é a porta escancarada da corrupção”. Apesar dos alertas e da proposta dos treze, o Euro-M parou, pois não servia à grande banca estrangeira, que detém parte vital dos votos nas transnacionais. Ela queria mais dívida e austeridade, o que reduziria o lucro das empresas nesses países que seriam obrigados a vendê-las a preço de saldo. Os vencedores seriam os megafundos especulativos e os partidos tradicionais. Os treze alertaram para o absurdo do BCE emprestar à banca à 0,5% e esta comprar a dívida pública do país à 4,5%.

Em Abr/11 escrevi no OJE e a 30/06/11 na Visão Online que o Euro não tinha futuro. Em 25/11/13, fui autorizado a citar o Euro-M no A-DailyNews, ao resumir o relatório da Oxford Martin School, escrito por, entre outros, Pascal Lamy ex-DG da World Trade Organization, Michelle Bachelet, do Chile, os Professores e Nóbeis Ian Goldin e Amartya Sen, e Jean-Claude Trichet.

Em Mar/11 a UE divulgou o Livro Branco Transportes, com bons fundos para reduzir o custo da logística dos países periféricos, Portugal, Espanha, Itália e Grécia. Em Maio, o livro “Transportes”, prefaciado por Mira Amaral e Fernando Pinto, ofereceu ao governo português sugestões para usar os fundos. Já se tinha listado os nichos em que Portugal tinha vantagem competitiva para aumentar as exportações, mas tinha alto custo de logística. Em Nov/11 escrevi sobre a austeridade positiva dos países nórdicos, ao não processar os evadidos fiscais, obtendo o retorno do capital e pagando o imposto total. O fisco sueco ganhou 110M€ em seis dias. Em 2012 Viriato Soromenho-Marques alertou para os problemas do Euro e da UE, sendo até publicado na Alemanha.

A alemã Evelyn Finger, no ‘Die Zeit’ de 10/10/13 citou os 2MM€ que as empresas estrangeiras nos sacaram de lucro, ao pagar um micro-imposto na Holanda, mas nada cá. As questões dos oito autores, de quatro países, do “Portugal Pós-Troika”, escrito em 2013, aí estão: Quem lucra e quem perde com o atual Euro? Por que é que os que podem resolver nada fazem? Expulsar a Grécia resolve? O Euro-M resolve? O que devemos fazer para garantir um futuro melhor para os nossos filhos?

Consultor Internacional, autor de Como Sair da Crise, Ontem e Hoje na Economia e Portugal Pós-Troika.

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